Em nosso texto “O que é design? Uma visão além da ´estética bonitinha´”, falamos sobre o conceito de Design visto de uma ótica mais ampla e, como o próprio título sugere, além do simples visual. No texto de hoje, vamos dar continuidade e explorarmos 10 princípios para um bom Design, segundo Dieter Rams.
Antes de seguirmos em frente, precisamos entender quem é Dieter Rams. Designer industrial alemão, Rams foi responsável por diversos projetos da Braun, inicialmente uma subsidiária da Gillete Company e, com a compra em 2005, uma marca da Procter & Gamble (P&G). Mas a Braun do período de Rams (1961 a 1995) era bem diferente. Na época, Rams desenvolveu rádios, cafeteiras, projetores e diversos outros aparelhos eletrônicos. Influente no cenário mundial do Design, Rams está associado ao conceito do “menos é mais”, ou seja, um estilo mais clean e minimalista. Por essas e outras, Dieter Rams é a influência de designers famosos, como Jonathan Ive, designer britânico responsável pelo departamento de Design da Apple, além de ter peças expostas no MoMA.
Na década de 70, Rams introduziu o conceito de desenvolvimento sustentável e de dez princípios para um bom design. Princípios que hoje não queremos apenas apresentar, mas explorar cada um deles neste texto. Confira abaixo:
Princípio #01 – O bom Design é inovador: As possibilidades de inovação não estão, de modo algum, esgotadas. O desenvolvimento tecnológico está sempre oferecendo novas oportunidades para projetos inovadores. Mas o Design inovador sempre se desenvolve em conjunto com tecnologia inovadora e nunca pode ser um fim em si mesmo.
Conforme já falamos anteriormente, aqui no Tellus, vemos a inovação como a necessidade e/ou oportunidade de resolver problemas, onde existem problemas técnicos ou problemas complexos. Apesar de a visão de Dieter Rams ser focada no Design Industrial, podemos trazer este princípio para um aspecto mais amplo, quando olhamos a inovação como uma solução criativa.
Princípio #02 – Um bom Design torna um produto útil: Um produto é comprado para ser usado. Ele tem que satisfazer certos critérios, não apenas funcionais, mas também psicológicos e estéticos. Um bom Design enfatiza a utilidade de um produto, ao mesmo tempo que desconsidera qualquer coisa que possa prejudicá-lo.
Lembrando a referência que usamos no texto anterior, onde falamos que “(o design é) um segmento profissional que se dedica à definição de uma melhor qualidade de vida a todo ser humano”, logo, o bom Design precisa ser útil para gerar valor.
Princípio #03 – Um bom Design é estético: A qualidade estética de um produto é essencial para sua utilidade, porque os produtos que usamos todos os dias afetam nossa pessoa e nosso bem-estar. Mas apenas objetos bem executados podem ser bonitos.
O belo é um conceito complexo. Muitas vezes, o que é bonito para você, pode não ser para nós. Mas acreditamos que o terceiro princípio de Rams está muito mais relacionado a qualidade, do que beleza em si.
Princípio #04 – Um bom Design torna o produto compreensível: Ele esclarece a estrutura do produto. Melhor ainda, pode fazer o produto falar. Na melhor das hipóteses, é auto-explicativo.
Muito mais que compreensível, o bom Design também é acessível. Se falarmos de um bom design no campo do UX/UI (área que estuda o conjunto de elementos e fatores relativos à interação do usuário com um determinado produto, sistema ou serviço, e a interação entre humanos e máquinas), estamos falando de uma plataforma de fácil utilização, auto-explicativa. Acho que podemos ir além neste princípio. O bom Design torna processos complexos em algo simples.
Princípio #05 – Um bom Design é discreto: Produtos que cumprem uma finalidade são como ferramentas. Eles não são objetos decorativos, nem obras de arte. Seu design deve, portanto, ser neutro e restrito, para deixar espaço para a auto-expressão do usuário.
O quinto princípio talvez seja um dos mais contraditórios em relação a carreira de Dieter Rams, visto que alguns produtos do designer hoje são peças fixas de museus, entre eles o MoMA, em Nova York. Ele também dialoga de forma contrária com o princípio nº 3. Isso quer dizer que está errado? Não, o bom Design precisa ser discreto. Ele não precisa “gritar por atenção”. Como falamos no princípio anterior, o bom Design precisa estar ali para resolver um problema e, não tornar-se parte dele.
Princípio #06 – Um bom Design é honesto: Não torna um produto mais inovador, poderoso ou valioso do que realmente é. Não tenta manipular o consumidor com promessas que não podem ser mantidas.
A honestidade é um conceito interessante se olharmos neste contexto. O que Rams quer dizer com o sexto princípio é que o Design não deve parecer que entrega mais do que realmente consegue. Pense em uma cadeira com visual complexo e ousado, se ela não serve para sentar, logo não cumpre seu papel e – consequentemente – não entrega o que deveria.
Princípio #07 – Um bom Design é de longa duração: Evita estar na moda e, portanto, nunca parece antiquado. Ao contrário do design da moda, dura muitos anos – mesmo na sociedade descartável de hoje.
Se pararmos para pensar que os 10 princípios foram esboçados em 1970, falar em longa duração é algo que faz total sentido. O período pós II Guerra viu uma enxurrada de produtos plásticos, descartáveis. Com o sétimo princípio, Rams levanta dois pontos importantes: o consumo consciente e o Design atemporal, que não deixa o produto/serviço conectado a um período específico.
Vamos trazer este exemplo para a realidade do Tellus. Imagine trabalhar o Design de Serviços conectado a uma gestão pública específica. Provavelmente a solução seria descontinuada ou deixada de lado no governo seguinte e – como consequência – duraria menos.
Princípio #08 – Um bom design é completo até o último detalhe: Nada deve ser arbitrário ou deixado ao acaso. Cuidado e precisão no processo de design mostram respeito ao usuário.
De novo, os princípios de Rams estão muito focados em produtos, na produção em larga escala. Mas o oitavo princípio nos traz uma questão interessante, que é pensar nos mínimos detalhes. Quando o design é completo, não há excessos, sejam eles físicos ou virtuais. Imagine este conceito aplicado a um processo, o atendimento de uma UBS, por exemplo, quando ele é completo, não gera etapas desnecessárias ou inúteis.
Princípio #09 – Um bom Design é ambientalmente amigável: Design faz uma contribuição importante para a preservação do meio ambiente. Conserva recursos e minimiza a poluição física e visual ao longo do ciclo de vida do produto.
Talvez um dos princípios mais a frente do seu tempo, falar que o bom Design precisa ser responsável com os impactos ambientais pode parecer algo lógico no mundo atual, mas era algo pouco discutido no cotidiano industrial de Rams.
Princípio #10 – Um bom Design é mínimo: Menos, mas melhor – porque se concentra nos aspectos essenciais, e os produtos não são sobrecarregados com itens não essenciais. De volta à pureza, de volta à simplicidade.
O décimo item fala muito sobre o estilo de Dieter Rams. Para quem está familiarizado com o Design sob a ótica do “menos é mais”, sabe que o menos não quer dizer a ausência de algo, mas o “não excesso” de algo. Em um mundo onde o conceito de minimalismo é altamente discutido (caso queira se aprofundar no tema, sugerimos que assista ao documentário “Minimalism: A Documentary About the Important Things”, disponível no Netflix), faz todo sentido dizer que um bom Design é algo simples.
Para quem quiser se aprofundar nos ensinamentos de Dieter Rams, vale acessar a página da Vitsœ (em inglês), empresa fundada pelo designer e conferir o documentário RAMS (disponível no Vimeo), do nova-iorquino Gary Hustwit, lançado em 2018 e viabilizado graças a uma campanha de crowdfunding.
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