A cidade de São Paulo completou 465 anos na última semana (25). Com quase cinco séculos de existência, uma das maiores cidades do mundo – hoje com aproximadamente 12 milhões de habitantes, segundo o IBGE – cresceu de forma acelerada e, até certo ponto, caótica. Uma megacidade onde a mobilidade urbana e o desenvolvimento econômico cresceram correndo em direções opostas. São Paulo é a cidade onde a ciclovia é uma necessidade, desde que não atrapalhe os carros. É uma cidade de contradições e misturas de pensamentos, que colocam o planejamento utópico em arquivos empoeirados.
Em novembro de 2017, a BBC Brasil publicou o texto “Como seria São Paulo se projetos de urbanismo tivessem saído do papel?”. Nele, a repórter Letícia Mori, conta como a cidade arquivou projetos e “visões recentes de uma cidade mais arborizada e com transporte mais eficiente a sonhos modernistas criados por nomes como Oscar Niemeyer e Vilanova Artigas, passando por projetos de metrópole ainda mais voltados para o trânsito de carros, da época do prefeito Faria Lima (1965-1969).” Como a própria matéria cita, é um tesouro enterrado em arquivos.
A parte interessante deste projetos é que muito usam uma abordagem do Design Thinking, mesmo que – na época – não adotassem essa terminologia. Eles têm o ser humano como peça central do problema e, muitos deles, incentivam soluções que impactam positivamente o meio ambiente.
O ano é 2018. Nos EUA, o bilionário Elon Musk anuncia a construção do primeiro túnel da Boring Company. A ideia do projeto é que ele seja uma solução subterrânea para a mobilidade urbana, com o objetivo de diminuir o trânsito das grandes cidades. Mas vamos voltar mais no tempo.
O ano é 1967. No Brasil, o então prefeito de São Paulo, Faria Lima, lança um concurso de reurbanização da Avenida Paulista. O arquiteto Nadir Cury Mezerani e o engenheiro Figueiredo Ferraz são campeões do prêmio, com o projeto de jardins suspensos e túneis ao longo da avenida mais famosa da cidade. Segundo a BBC, “os jardins suspensos receberiam um tratamento paisagístico adequado à recreação. Seriam sob forma de círculos, com um núcleo para crianças com escorregadores, labirintos, tanques de água e tanques de areia. Em volta deste núcleo haveria bancos e vegetação”, diz o texto do projeto.
O projeto brasileiro até começou, mas nunca terminou. Em 1971, Figueiredo Ferraz torna-se prefeito de São Paulo, mas acaba saindo e o projeto é interrompido. O túnel, que cruzava toda a extensão da avenida, foi fechado e nunca mais recuperado.
Em 2008, o site G1 publicou o texto “Avenida Paulista tem 22 galerias subterrâneas”. De acordo com Marly Lemos, diretora da Associação Paulista Viva na data da publicação, a Paulista ainda possui um rico subsolo esperando para ser explorado. Calcula-se que a região possui cerca de 22 galerias subterrâneas ao longo dos 2,8 km de extensão. “Os prédios tinham seus subterrâneos, que eram as garagens. Na medida em que a prefeitura desapropriou o solo (durante o processo de alargamento da avenida), ela desapropriou, na mesma fatia, o subsolo. Como algumas edificações já tinham estas áreas, as partes que ficaram sob a calçada se transformaram em áreas públicas”. Marly completa, “há empresas que usam como garagem ou estacionamento, outros fecharam a área e há também quem use até como quadra esportiva. O detalhe é que se trata de uma área pública usada como espaço particular”.
Mas os projetos guardados nos arquivos da SPUrbanismo não se limitam a Avenida Paulista. O Elevado Costa e Silva, também conhecido como Minhocão, deveria ser um parque suspenso, com galerias e lojas. O projeto de requalificação do elevado já havia sido proposto em 2006, quando a prefeitura da cidade lançou um concurso para repensar o espaço.
O Plano Diretor Estratégico do Município de São Paulo, aprovado em julho de 2014, e que serve como lei municipal que orienta o desenvolvimento e o crescimento da cidade até 2030, definiu que o Minhocão seja demolido ou transformado em parque.
Já na região do Mercadão de São Paulo, o projeto previa uma transformação intensa. O foco seria a criação de um sistema viário mais eficiente e um lago, que resolveria o problema das enchentes. Além disso, os terrenos – hoje vazios e abandonados – na região do Mercadão se transformariam em um grande parque.
Por último, o maior e mais impactante projeto da cidade são as hidrovias urbanas. Atualmente a cidade de São Paulo é cortada por dois grandes rios inutilizados, o Tietê e o Pinheiros. O projeto, que se iniciaria em 2012, previa um cronograma de 38 anos para a implantação de um hidroanel com mais de 170 km de hidrovias navegáveis, interligando os dois rios e as represas Billings e Taiaçupeba.
Segundo a professora Nadia Somekh, que foi presidente da Emurb e do Conpresp (órgão de patrimônio municipal), em entrevista para a BBC, “é um projeto que traria resposta para diversos problemas modernos – do transporte urbano à mudança da matriz energética (já que menos carros na rua significam menos consumo de petróleo)”.
Apesar de muitas ideias seguirem nos arquivos da prefeitura, outros projetos importantes de mobilidade urbana e uso da cidade foram aplicados, como o exemplo da Avenida Paulista aos domingos e feriados, que fica fechada para o trânsito de veículos, tornando-se um grande espaço público ao ar livre para os cidadãos.
Créditos: Imagem Destaque – Por Alf Ribeiro / Imagem #01 – Por f11photo / Imagem #02 – Por Alf Ribeiro
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