O cenário das tecnologias sociais, ou seja, aquelas que impactam de alguma forma a sociedade tem se tornado um dos mais agitados no universo da inovação. No texto de hoje, vamos mostrar 10 tendências de inovação (muitas delas no campo das tecnologias sociais) e como elas serão aplicadas nos serviços públicos – e, consequentemente, impactarão as nossas vidas. Confira!
Inteligência artificial tem sido tema recorrente nos conteúdos publicados em nossa plataforma. Em textos como os “10 princípios para o design na era da inteligência artificial, segundo Yves Béhar”, temos visto que a inteligência artificial tem entrado em diversos campos de atuação. Já no setor público, a proliferação da tecnologia tem acontecido por meio dos bots, que servem como assistentes de atendimento e automação de processos (leia mais no texto “Govtechs e os bots em órgãos públicos brasileiros”). Outro exemplo de automação de processos foi a iniciativa da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Por meio de um evento de capacitação, concluído em outubro de 2018, a agência visava promover a automação dos processos do GFT (sistema de Gestão de Processos da ANAC), fazendo com que a mensuração de produtividade, distribuição de trabalho, controle de prazos e sequenciamento de tarefas fosse automatizado.
Até poucos anos atrás, o reconhecimento facial era algo falho ou extremamente caro. No entanto, a tecnologia sofreu um salto na qualidade e teve seu custo barateado, ao ponto de termos celulares com a funcionalidade de desbloqueio da tela pelo reconhecimento da face do proprietário. No campo dos serviços públicos, o reconhecimento facial tem sido usado, principalmente, na busca de criminosos. Um exemplo bem sucedido tem sido o projeto de Vídeo Policiamento, utilizado pela primeira vez no carnaval de Salvador e, segundo a Agência Brasil, capaz de reconhecer um fugitivo vestido de mulher. Procurado há 8 meses por homicídio, Marcos Vinicius de Jesus Neri, 19 anos, foi identificado pelas câmeras de reconhecimento facial, durante um dos blocos mais famosos de Salvador, e preso pela polícia local.
De acordo com o Mobile Visual Networking Index (VNI), da Cisco, 21% do tráfego brasileiro será feito por meio de plataformas móveis e/ou internet das coisas (IoT). No mundo, esse número deve chegar aos 4 bilhões de conexões IoT. Apesar de já existirem algumas soluções neste cenário, como o monitoramento de pessoas, veículos e equipamentos no aeroporto de Congonhas (SP), implementado no final de 2017, esta inovação deve ter saltos de qualidade e se popularizar com o lançamento da rede 5G. Por aqui, a Anatel já anunciou que o leilão da quinta geração de conexão para serviços móveis será feito no primeiro trimestre de 2020.
Nos últimos anos, muito tem se falado em cidades inteligentes. Aqui no Tellus já falamos sobre duas iniciativas, entre elas a Innovation Park, uma cidade inteligente com blockchain. Já no Brasil, de acordo com o Ranking Connected Smart Cities, Curitiba e São Paulo são as duas cidades mais inteligentes do país. O ranking, que tem como objetivo definir as cidades com maior potencial de desenvolvimento no Brasil, sendo dividido em quatro resultados: Geral, por Eixo Temático, Região e por Faixa Populacional; usou indicadores de 11 principais setores: mobilidade, urbanismo, meio ambiente, energia, tecnologia e inovação, economia, educação, saúde, segurança, empreendedorismo e governança, para definir as posições das cerca de 700 cidades participantes do ranking. No entanto, as cidades inteligentes brasileiras estão longe de ser algo que realmente possa ser chamado de smart city. Sem redes interconectadas ou soluções de IoT, o universo das cidades inteligentes brasileiras ainda têm um amplo espaço para ser aproveitado. No entanto, tudo indica que isso só será aproveitado com a implementação da rede 5G.
A transformação digital já é realidade em vários campos do setor privado. Muitas empresas, por exemplo, já nem utilizam papel (vide as fintechs, que revolucionaram a área financeira), mas o setor público ainda apresenta dificuldade neste cenário. Isso acontece não só no Brasil, mas no mundo todo. Para tentar acelerar o processo, em agosto de 2018, o governo brasileiro abriu a consulta pública para a “Estratégia Brasileira para a Transformação Digital”. Segundo o site Mobile Time, “trata-se de um conjunto de diagnósticos, diretrizes e metas para os próximos cinco anos relacionados às áreas de governo eletrônico, infraestrutura, processos produtivos, pesquisa e desenvolvimento, confiança e ambiente digital e capacitação com foco no desenvolvimento na adoção e uso de Tecnologias de Inovação e Comunicações (TICs) por todas as camadas da sociedade e participação do Brasil na economia digital.” Com a mudança de governo, o plano ainda não seguiu em frente, mas é possível conferir o documento mais recente neste link.
O blockchain se popularizou na mídia com a onda das criptomoedas (bitcoins e afins), mas a tecnologia vai muito além do cenário financeiro. O melhor jeito de explicarmos a tecnologia é falando que ela seria um excelente evolução para os cartórios. Sabe quando você tem que reconhecer firma de um documento e o cartório entrega o selo de autenticidade de uma assinatura? O blockchain faz isso online. Só que, ao invés de um cartório, a validação é múltipla e simultânea, ou seja, vários computadores autenticam a veracidade daquele “bloco”, que pode ser uma assinatura, uma transação ou qualquer outra informação. Imagine efetuar a transação de um imóvel sem sair de casa? Com o blockchain seria viável e muito mais seguro que os processos que temos atualmente. Além disso, a tecnologia também pode ser usada para auditar contas públicas e prestações de contas, como o caso da Agência Nacional do Cinema (Ancine).
Em um passado não tão distante, usar um bom firewall garantia a segurança dos dados digitais. Mas isso mudou. De acordo com o jornal indiano The Tribune, é possível comprar (por WhatsApp e sem sair de casa) o acesso ao Aadhaar, sistema de biometria que guarda as informações de 1,2 bilhões de indianos, por meros 500 rúpias, algo em torno de US$ 8. Esse é apenas um dos diversos exemplos de brechas de segurança que existem no mundo de hoje. No cenário das empresas privadas, vazamento de dados é algo delicado e pode fazer com empresas atinjam a bancarrota, mas o que acontece quando o vazamento de dados vem do governo? Imagine ter o seu imposto de renda acessado por hackers. Por isso, ainda em 2014, foi criado a Estratégia Geral de Segurança Cibernética do SISP (Sistema de Administração dos Recursos de Tecnologia da Informação). Para saber mais, você pode acessar neste link o documento público no site do TCU – Tribunal de Contas da União.
Uma das maiores mudanças que veremos nos próximos anos está ligada ao modo como trabalhamos. Na iniciativa privada, home office e outros formatos de trabalho já são realidade, mas no cenário público, o cartão de ponto e jornadas “engessadas” criam um emaranhado de burocracia. Precisamos pensar o futuro do trabalho muito além dos processos e focarmos na agenda de negócios voltada para as pessoas. Além disso, posições e trabalhos precisam ser pensados para pessoas (e não o contrário, como estamos acostumado). No cenário público, precisaremos repensar o modo como nos relacionamos, a fim de evitar desperdícios financeiros e de pessoas. Se para uma organização atrair e reter uma força de trabalho feliz e produtiva, os empregadores precisam pensar além dos requisitos legais básicos em torno do trabalho flexível, como podemos pensar este formato para as carreiras públicas?
Encontrar talentos digitais é um dos maiores desafios que as empresas enfrentam atualmente. Mas é particularmente difícil para empresas grandes e tradicionais, especialmente aquelas que operam em indústrias consolidadas. No setor público, essas habilidades digitais são ainda mais escassas e a demanda é alta, por isso o governo precisará começar a pensar “fora da caixa” quando o assunto for aquisição de novos talentos.
Esse talvez seja um dos maiores paradigmas na questão que envolve trabalho e hierarquia. Precisamos entender que a decisão não pode mais ficar nas mãos de uma só pessoa. Aliás, ela não precisa nem mesmo ficar na mão de pessoas em alguns casos. Algoritmos oriundos de aprendizado automático podem exibir comportamentos complexos ou realizar tarefas que costumávamos associar exclusivamente à capacidade intelectual humana, ou seja, eles podem tomar decisões de forma mais analítica e muito mais rápido. No Brasil, a Receita Federal já seleciona declarações de imposto de renda para exame aprofundado de forma algorítmica, a conhecida “malha fina”. Ainda por aqui, no TCU, já foram elaborados modelos para prever riscos associados a transferências voluntárias e a orçamentos de obras de infraestrutura. Nos EUA, o estado da Pensilvânia adotou um sistema para avaliação de risco associado a condenados, quando existe revisão de sentenças penais. Em resumo, precisamos usar os algoritmos em favor do nosso tempo e da produtividade, fazendo que com a máquina fique com o trabalho bruto e o ser humano siga na gestão.
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