Você sabe o que é inovação social? É comum confundirmos o termo com alguma forma de assistencialismo ou filantropia da era digital. No entanto, está bem longe de ser isso.
Segundo Fábio Deboni, gerente executivo do Instituto Sabin, “lidamos com uma situação paradoxal no Brasil (e América Latina): nunca se falou tanto sobre inovação social, nunca o universo de experiências práticas nesse campo esteve em tanta evidência, mas, ao mesmo tempo, não temos ainda um entendimento mínimo sobre o que, de fato, é inovação social”.
Sendo assim, o objetivo deste artigo é trazer o tema ao debate e mostrar a sua importância para o desenvolvimento social. Vamos lá?
Para entendermos melhor o significado de inovação social, podemos, primeiramente, ter algumas pistas consultando o dicionário. O termo “social” costuma ser definido como “algo relacionado a uma comunidade, a uma sociedade humana, ao relacionamento entre indivíduos”. Já o verbo inovar significa “tornar novo, renovar, restaurar”.
Logo, se formos pensar no termo com base nas duas palavras que o compõem, inovação social seria o ato de renovar algo relacionado a uma comunidade e/ou o relacionamento entre indivíduos.
No entanto, para chegar a uma definição completa, precisamos trazer também um conceito muito importante que até agora não apareceu: “impacto”. Inovação social é uma forma de impactar e renovar algo relacionado à sociedade.
Segundo a Stanford Social Innovation Review, trata-se de “uma nova solução para problemas sociais; uma solução mais eficiente, sustentável e/ou justa do que as tradicionais e cujo valor gerado beneficia a sociedade como um todo e não apenas alguns indivíduos”. Ou seja, trata-se de uma solução que gera impacto na sociedade.
Isso quer dizer que inovação social seria a mesma coisa que negócios de impacto? Fábio Deboni cita, em seu texto para o Grupo de Institutos Fundações e Empresas – GIFE, “temos visto que há uma vinculação mais ‘automática’ de que inovação social seria sinônimo de investir em negócios de impacto. Não que isso também não seja, mas a inovação social é muito mais ampla”.
Além disso, completa, “não há uma concepção única que explique ou oriente todos os processos que se supõem de ‘inovação social’. Não há, portanto, uma bala de prata que resuma toda a complexidade do tema. Restringir inovação social a atuar/investir em negócios de impacto é um equívoco que precisa ser sinalizado e debatido”.
Assim, como podemos perceber, não existe uma concepção única e a discussão está longe de ser concluída. Afinal, quando compreendemos que inovação social é algo que impacta a sociedade de uma nova forma, precisamos entender que nem sempre ela é completamente positiva.
Empreendedorismo social, economia colaborativa e negócios de impacto são noções inerentes à inovação social. Em sua grande maioria, esses conceitos são construídos para colaborar com uma causa ou solucionar um problema.
A economia colaborativa, por exemplo, é uma forma de economia na qual bens e serviços são obtidos de forma compartilhada. Aplicativos como Uber e Airbnb, por exemplo, são considerados soluções que se enquadram nessa categoria, afinal, você não precisa adquirir um carro ou uma casa para usufruir das vantagens que eles oferecem.
Existem muitas iniciativas positivas no universo da inovação social, mas um dos seus principais desafios é ter escala, ou seja, beneficiar um número significativo de pessoas.
Ela não existe, portanto, se o impacto for sentido apenas por um grupo restrito de indivíduos. Se estamos falando em renovar soluções para a sociedade, precisamos atingir um número expressivo de pessoas. Pode ser um bairro, uma rede de comerciantes ou uma comunidade inteira, porém, nunca uma ou duas pessoas apenas.
Por essa razão é tão importante conectá-la com os serviços públicos. A relação entre a inovação social e o governo permite que se ganhe escala e, assim, que o número de cidadãos impactados seja muito maior.
A melhor forma de entender como essa conexão pode funcionar é por meio de exemplos concretos. Então vamos lá: em um outro artigo aqui no site do Instituto Tellus, publicamos o estudo de caso da Estudioteca, um projeto feito em parceria com a empresa de logística VLI (Valor Logística Integrada).
A iniciativa tinha o objetivo de criar soluções nas áreas de educação e saúde nos municípios de Santos e Cubatão, em São Paulo, territórios onde o projeto de expansão do TIPLAM (Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita) está inserido.
Para tanto, o programa foi iniciado em nove escolas-piloto selecionadas a partir de critérios como maior número de alunos e diversidade de modalidades de atendimento, totalizando 7.643 alunos e 531 professores. Se tivesse selecionado escolas aleatoriamente, ele não teria gerado um impacto tão grande.
Podemos citar, ainda, outro exemplo relacionado ao fornecimento de energia elétrica, um facilitador crítico na saúde de qualidade. O acesso à energia torna as comunidades mais saudáveis, pois melhora as condições de vida dos seus moradores. A iluminação pública fornece segurança e proteção, reduz o índice de criminalidade e incentiva atividades saudáveis como esportes após o anoitecer.
Na Índia, evidências coletadas pelo Conselho de Energia, Meio Ambiente e Água mostram que o investimento em energia pode desempenhar um papel importante na prestação de cuidados de saúde em áreas rurais. Mas, por mais que existam soluções off-grid (desconectadas da rede elétrica), muitas vezes, se trata de uma responsabilidade do governo local.
Contudo, ao mesmo tempo que é uma responsabilidade, é também um desafio levar energia elétrica para todos, principalmente nas áreas rurais. É nesse aspecto que a inovação social somada ao poder de escala do governo pode aumentar o impacto de soluções nesse campo, uma vez que nem todo problema público é sempre estatal.
Quer saber mais? Confira o Tellus Podcast #7 com Fábio Deboni sobre esse tema:
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