A gestão e desenvolvimento de políticas pública é algo complexo. É desafiador, embora crucial, querer ver uma correlação imediata entre iniciativas e resultados. Se você hoje está atuando no cenário público, muito provável que já tenha ouvido falar em “design for policy” (design para política, em tradução livre). A ideia é usar conceitos do Design, principalmente o Design Thinking, nos processos de políticas públicas. O surgimento dessa abordagem levou à evolução do papel dos cidadãos no processo de formulação de políticas, tornando-o mais central, refletindo uma tendência semelhante no teatro, onde o papel do público no processo criativo também tomou o centro do palco, e muito semelhante ao processo de Design Thinking, onde se propõe que um novo olhar seja adotado ao se focar em problemas complexos, mas sempre tendo o indivíduo como peça central.
No entanto, o Design Thinking ainda é uma abordagem relativamente nova, ao contrário do teatro, que data da antiga Grécia. Mas também há uma razão pela qual o teatro é constantemente usado nas salas de aula, muitas vezes em terapia e, às vezes, no engajamento público: Existe uma imensidão de artigos descrevendo os benefícios (experimentados e testados) do uso do teatro para aprendizagem, comunicação e criatividade. Além disso, técnicas de teatro improvisadas podem fortalecer todas as etapas do processo de Design Thinking, desde a criação de empatia do usuário até a criação de protótipos de produtos. No caso da platéia, as performances podem gerar engajamento emocional e cognitivo, permitindo que eles se relacionem com uma história e/ou tema específicos por meio da experiência pessoal.
Uma dica para ver como essa questão de ter o público como peça central é importante, sugerimos que assista a premiada série “The Marvelous Mrs. Maisel”. Disponível no Amazon Prime, a série mostra Miriam Maisel (interpretada por Rachel Brosnahan), uma dona de casa da década de 50 que descobre ter um talento nato para o stand-up. O interessante da série é ver como Mrs. Maisel precisa se adaptar e interagir com o público e os seus aprendizados.
No campo da pesquisa e da inovação, o teatro tem sido usado principalmente para duas finalidades: para informação ou comunicação em torno de uma determinada peça de pesquisa, mas também para engajamento público e co-criação de conteúdo. Um exemplo interessante é o de Peter Robbie, professor de engenharia em Dartmouth. Em seu curso de Design Thinking, Robbie faz com que os alunos representem como as pessoas usam os objetos ao seu redor. É uma técnica aprendida com a experiência. “Esta aula sobre improvisação é uma ferramenta de brainstorming”, explica ele. “Sempre achei que as pessoas mais rápidas e espertas na fase de brainstorming eram aquelas que sabem improvisar.”
O projeto Stage Your City, liderado pelo European Theatre Lab , mescla o teatro participativo com elementos digitais, como realidade aumentada, jogos e aplicativos de smartphones, para envolver as comunidades em torno do futuro de suas cidades. O público é convidado a explorar uma cidade distópica, governada por uma inteligência artificial, e a tomar decisões sobre o mundo em que quer morar até 2070.
Já a peça Don’t Smile (Não Sorria, em inglês), co-produzida pelo Theatre of Debate e em colaboração com estudantes, dentistas, adolescentes, pacientes e artistas, e usando pesquisas sobre saúde bucal da Universidade de Leeds, tinha como objetivo envolver os adolescentes em maior risco, em uma região onde quase metade dos menores de 12 anos tinham dentes em decomposição. A iniciativa foi tão bem sucedida, que, em 2016, recebeu o prêmio do Centro Nacional de Engajamento Público.
Ambos os projetos são apenas alguns exemplos de como o uso do teatro no processo de formulação de políticas tem um potencial real para torná-lo mais informado e inclusivo, introduzindo novas ideias, mas também permitindo comentários diretos e em tempo real do público. O engajamento público e a cocriação bem sucedidas exigem altos níveis de confiança e colaboração, e isso só pode ser alcançado se os formuladores de políticas públicas realmente entenderem as necessidades, experiências e origens dos grupos que estão focando.
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