Você sabe o que é biomimética? É o estudo das estruturas biológicas e das suas funções para, assim, aprender com as estratégias e soluções da natureza, ou seja, é uma forma de observamos na natureza soluções que podem ser aplicadas na engenharia, tecnologia, Design e outros campos.
Leonardo Da Vinci era um grande estudioso da biomimética (apesar de, na época, nem existir o termo). O polímata extraiu da natureza muitas das referências que se tornaram invenções, como paraquedas, submarino e o helicóptero. Para quem está em São Paulo, atualmente está em cartaz a exposição “Leonardo Da Vinci – 500 anos de um gênio”, que mostra um pouco desta metodologia de criação (podemos chamar até de Design, por que não?) do gênio italiano. A exposição multimídia fica no Museu da Imagem e do Som até o dia 01 de março de 2020.
Voltando ao nosso cenário, apesar da humanidade sempre ter olhado para a natureza como inspiração para o Design, apenas em 1997 isso se transformou em metodologia para inovação. O livro “Biomimética: inovação inspirada pela natureza (Biomimicry)”, da bióloga Janine Benyus, apresentou ao mundo a biomimética como metodologia. Na apresentação “Janine Benyus: Biomímica em ação”, a pesquisadora mostra como designers e inventores podem se inspirar na natureza, encontrando soluções à prova d’água, aerodinâmicas e com captação de energia solar, entre outros. Na palavras de Benyus, “não somos os primeiros a fazer isso.”https://embed.ted.com/talks/janine_benyus_biomimicry_in_action
“A natureza oferece continuamente soluções elegantes para todos os tipos de problemas de Design”, afirma Lisa King, vice-presidente de inovação da Interface. “Muitas inovações são sobre restrições, portanto a simples resiliência dos sistemas naturais pode servir como uma grande fonte de inspiração para novas abordagens de Design e fabricação.”
Isso quer dizer que designers precisam ser biólogos? Não necessariamente. “Eu não tenho formação em biologia; minhas inspirações vieram de minhas próprias experiências ao ar livre ”, afirma David Oakey, designer especializado em design sustentável e fundador do escritório que leva o seu nome. “Vá lá fora e dê uma olhada cuidadosa ao seu redor. Depois de desenvolver um olhar, você verá inspiração em todos os lugares.”
Oakey fala algo bem semelhante ao que já dissemos no texto “Existe algo mais inovador do que a natureza?”. Nele mostramos como devemos observar a natureza e trazer, para processo de Design Thinking, oportunidades de entendermos como ecossistemas se comportam e se adaptam. Além disso, a premissa de que a natureza é sustentável, também a torna em uma ótima referência para projetos de design neste campo. “A natureza é básica – recicla tudo, recompensa a cooperação, aposta na diversidade e adere ao mantra ‘a forma segue a função’. Se queremos tornar nosso ambiente construído mais forte e capaz de enfrentar os elementos, temos que projetar organicamente”, afirma Oakey.
Em texto recente, a revista Você S/A afirmou que “copiar a natureza pode gerar bilhões em novos negócios.” A revista afirma que “pelo método desenhado por Janine Benyus, existem duas formas de criar usando a biomimética. A primeira é partir de um desafio ou necessidade real (como filtrar água, fixar objetos em uma superfície ou economizar energia) e investigar de quais estratégias a natureza dispõe para resolver tarefa semelhante. A outra é olhar para determinado fenômeno natural, forma ou função desempenhada por um organismo ou sistema e pensar de que maneira ele pode ser útil e reproduzido na prototipagem de produtos ou soluções. Por isso os treinamentos invariavelmente contam com períodos de imersão em áreas verdes (de praças urbanas a reservas florestais).” E ainda completa “A metodologia pode ser aplicada tanto em criações tangíveis — um novo produto, ferramenta ou projeto — quanto em coisas intangíveis, como estratégias de gestão em uma empresa.”
No Brasil, soluções como o Nucleário, sistema de plantio florestal inspirado em bromélias e 100% biodegradável reduziu em 30% a taxa de mortalidade de mudas de árvores nos primeiros três anos após o plantio. A solução, premiada internacionalmente, recebeu em 2018 o prêmio Ray of Hope, do Biomimicry Insitute, tornando-se o primeiro projeto brasileiro a conquistar a premiação e receber os US$ 100 mil de prêmio.
Já no campo da segurança, no fim de outubro (26), durante a iOceans China 2019, a chinesa Boya Gongdao Robot Technology revelou o seu drone submarino inspirado em tubarões. O sistema será usado para missões de inteligência, vigilância e reconhecimento, incluindo levantamento do fundo do mar, pesquisa de objetos de interesse e/ou comunicações. Segundo Stephen Hall, especialista em tecnologia subaquática e ex-membro executivo da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO, presente no evento, o “tubarão-robô” foi um dos vários projetos biomiméticos apresentados na feira.
Observado todo este cenário, vamos voltar ao título do texto: O futuro do design está na biomimética? É difícil dizer que a biomimética é uma tendência de design, visto que já fazemos isso desde sempre. Mas uma coisa podemos afirmar, o design e a natureza podem crescer quando trabalhados de forma conjunta e com metodologia, mas, para isso, nós, designers, precisamos sair do computador e observar mais a natureza.
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