O futuro do trabalho: Uma agenda de negócios voltada para pessoas

Como parte das comemorações dos seus 100 anos, a Organização Mundial do Trabalho (ILO), única agência tripartida da ONU e que reúne governos, empregadores e trabalhadores de 187 estados membros, sendo o Brasil um deles, apresentou o relatório “Work For A Brighter Future” (“Trabalhe por um futuro brilhante”, em tradução livre). Com uma agenda centrada no ser humano, sendo o principal ponto para um futuro melhor do trabalho, o relatório da Comissão Global sobre o Futuro do Trabalho (co-presidida por Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, e Stefan Löfven, primeiro-ministro da Suécia) listou 10 recomendações para um cenário de trabalho decente e sustentável.

Apesar de não usar a terminologia do Design Thinking, podemos ver que a abordagem; a forma de pensar e solucionar problemas; utilizando a empatia, a colaboração e a experimentação é bem semelhante ao que carregamos como conceito do Design Thinking. Destacamos alguns abaixo:

Aprendizagem ao longo da vida para todos: Uma forma de adaptação

Segundo o relatório da ILO, “a mudança é uma característica constante no mundo do trabalho” e o direito à aprendizagem ao longo da vida deve ser algo essencial, pois constrói uma sociedade mais democrática. A aprendizagem formal e informal, desde a infância até a vida adulta, combinado com habilidades fundamentais e habilidades sociais e cognitivas oferecem um caminho para a maior inclusão de jovens e desempregados. A questão da aprendizagem universal e inclusão do jovem lembra bastante o projeto “Competências para a Vida”, publicado anteriormente aqui no site.

Uma agenda transformadora para a igualdade de gênero

A igualdade de gênero dentro do ambiente de trabalho é outro fator importante para a evolução do trabalho. O relatório é categórico ao assinalar que “não podemos mais questionar a igualdade de gênero. No entanto, é frustrante o ritmo lento das mudanças neste cenário, apesar das medidas legais e institucionais para coibir a discriminação e promover a igualdade.”

Além dos dois pontos acima, o relatório delimita uma agenda centrada no ser humano como algo que se baseia no investimento nas capacidades das pessoas, nas instituições e no trabalho decente e sustentável. Entre as dez recomendações também estão:

  • Uma garantia laboral universal que protege os direitos fundamentais dos trabalhadores, com um salário digno adequado, limites de horas de trabalho e locais seguros e saudáveis;
  • Garantia de proteção social desde o nascimento até a velhice, apoiando as necessidades das pessoas durante toda a vida;
  • Gerenciamento de mudanças tecnológicas para impulsionar o trabalho decente, incluindo um sistema de governança internacional para plataformas de trabalho digital;
  • Maiores investimentos em “economias verdes” (aquelas que visam o desenvolvimento sustentável com menor impacto ao meio ambiente) e rurais;
  • Remodelar os incentivos empresariais para incentivar investimentos de longo prazo.

A visão geral do relatório, além de ser centrada no ser humano, chama à atenção pelo fato do pensamento a longo prazo. Pensar no futuro não significa pensar apenas no amanhã, mas no depois de amanhã e depois. Sistemas sustentáveis e estratégias a longo prazo mostram que o relatório visa um legado, muito além de apenas soluções paliativas da forma como trabalhamos.

Que aliás, queiramos ou não, irá mudar. Como já sinalizamos anteriormente, 2019 marca um momento histórico no ambiente profissional. Com a entrada da Geração Z no mercado de trabalho, teremos – pela primeira vez na história – cinco gerações trabalhando simultaneamente.

O estudo publicado na revista Harvard Business Review mostra um pouco desta mudança de comportamento no ambiente de trabalho. A publicação intitulada “9 de 10 pessoas estão dispostas a ganhar menos dinheiro para realizar um trabalho mais significativo”, o estudo assinado por Shawn Achor, Andrew Reece, Gabriella Rosen Kellerman e Alexi Robichaux, mostra que “os trabalhadores americanos esperam algo mais profundo do que um salário em troca do trabalho.”

Ou seja, posições e trabalhos precisarão ser pensados para pessoas (e não o contrário, como estamos acostumado). Ainda segundo o estudo, “o antigo contrato de trabalho entre empregador e empregado, com a simples troca de dinheiro pelo trabalho, expirou (…) Em seu lugar há uma nova ordem em que as pessoas exigem um trabalho significativo e, em troca, se doam de forma mais profunda.” Em resumo, muito mais do que mudar a forma de trabalhar (home office, videoconferências, etc.), o trabalho do futuro fará sentido e será mais humanizado. E o futuro está logo aí na frente.

Para conhecer: Seguindo as guias do ODS nº 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico, da ONU, a iniciativa europeia “Enterprise 2020”, liderada pela Forética (associação de empresas e profissionais de responsabilidade social e sustentabilidade corporativa na Espanha e América Latina), visa promover e disseminar as melhores práticas no campo da responsabilidade social corporativa.