As govtechs, infraestruturas de tecnologia usadas para melhorar e inovar a forma como governo e cidadãos se relacionam e acessam serviços, têm visto um aquecimento acentuado no setor. Diversos governos têm investido, não apenas na digitalização dos serviços, mas, também, no relacionamento entre o setor público e o privado (principalmente com startups). No Brasil, o governo de São Paulo lançou o Pitch Gov.SP, programa onde “empreendedores podem apresentar os seus projetos a representantes do governo, solucionando desafios das mais diversas áreas, de educação a transparência.”
Entre as selecionadas na segunda edição do programa (concluído em janeiro de 2018), estão startups como a Cittamobi, solução para transporte e mobilidade que usa uma plataforma própria para fornecer informações sobre itinerário e localização em tempo real dos ônibus, além do contato direto com órgãos regulatórios.
Nós, do Tellus, também temos projetos no campo de govtechs. Em Teresina (PI), em parceria com a Comunitas, foi desenvolvido a plataforma e-você, solução de inovação aberta colaborativa, que convida a população local a participar ativamente da solução de um desafio importante que trará benefícios à própria comunidade. Cada desafio lançado pela prefeitura passa por quatro etapas. A 1ª fase é a da inspiração, em que todos contribuem com o envio de boas práticas em resposta ao desafio lançado. A 2ª é quando os participantes desenvolvem e enviam ideias e sugestões próprias; a 3ª é a votação da população, feita após a prefeitura analisar cada uma das soluções e separar as que são consideradas viáveis. A 4ª e última etapa é a execução da proposta que foi mais votada.
Em Portugal, o governo federal lançou uma iniciativa de govtech também bem interessante. Com projetos que se enquadrem dentro de um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), das Nações Unidas, o GOVTECH Portugal 2019 procura protótipos funcionais de soluções que possam ajudar com problemas em Portugal e em países em desenvolvimento. Os três projetos vencedores recebem: um investimento inicial de 30.000€; um protocolo de colaboração com o Estado para a implementação experimental do protótipo; incubação, junto da Rede Nacional de Incubadoras, pelo prazo de 3 meses; apoio à internacionalização via SOFID – Sociedade para o Financiamento do Desenvolvimento e participação no Web Summit (a maior conferência de tecnologia da Europa).
Atualmente na fase de seleção dos finalistas, o GovTech português transformou a fase de votação em um ação lúdica e gamificada para o público. Ao invés de votar, você deve “investir” nos projetos. O processo funciona assim: É necessário criar um login/senha com o cartão cidadão (documento de identificação do cidadão português, uma espécie de RG unificado em vigor no país desde 2010). Após o registro, você ganha “badges” de acordo com determinadas ações, como, por exemplo, convidar amigos para participar da votação. Esses badges definem quantas “moedas GOVTECH” você terá para investir nos projetos concorrentes. A ideia funciona quase como um Bitcoin fictício, já que você pode usar uma carteira digital para guardar suas moedas. Por fim, você pode investir em um ou vários projetos.
A parte mais interessante é que, assim como propõem as soluções de criptomoedas, govtech e digitalização de serviços públicos, no concurso tudo também é bem transparente e público. Por exemplo, foram emitidas 6.330.700 moedas GOVTECH por meio de blockchain e, até o momento, pouco mais de 842 mil haviam sido investidas nos projetos finalistas. Dá também para ver quem está ganhando. Enquanto escrevíamos este texto, o SIIP – Sistema Integrado de Informação Processual, solução baseada no ODS 16 e que propõem um sistema unificado de processos judiciais (que auxilia polícias, Ministério Público, juízes e advogados, seguia liderando o ranking de investimentos. Caso queira conhecer outros projetos bem interessantes, sugerimos que acesse a lista completa neste link.
Vale ressaltar um detalhe muito importante. Apesar de muitos projetos de govtech serem 100% soluções de TI, o concurso português afirma que “poderiam concorrer qualquer produto ou serviço que se adeque à solução de um dos 17 ODS”, ou seja, nem toda inovação precisa ser 100% tecnológica, até mesmo aquelas que possuem tech no nome.
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