A partir de janeiro de 2020, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vai pesquisar a variação nos preços de 56 novos elementos. Os produtos e serviços usados para medir a inflação oficial do país serão atualizados para acompanhar as mudanças nos hábitos de consumo da população. Visto de longe, a lista parece um amontoado de itens presentes e utilizados na maioria das casas brasileiras, mas, na verdade, ela diz muito sobre o comportamento da população.
Essas mudanças nos componentes da inflação têm como base os resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, que atualizou os hábitos de consumo, despesas e renda das famílias. Com 377 produtos e serviços, a nova estrutura de ponderação do IPCA traz seis subitens a menos que no modelo atual, baseado na POF 2008-2009, e em vigor desde janeiro de 2012. O IPCA reflete a cesta de consumo das famílias com rendimento mensal de um a 40 salários mínimos e abrange dez regiões metropolitanas do país, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e Brasília.
Aos gestores públicos, o IPCA é um termômetro não apenas para a questão econômica, mas também para a nova forma como os brasileiros se relacionam não só com consumo de itens, mas também mobilidade e novos padrões de necessidades.
Quando comparamos as duas listas (dos itens que saem e os que entram), vemos que os alimentos naturais ganharam espaço. Por exemplo, sai a carne em conserva e patê; entra cupim e picanha. Nas frutas, melão, laranja-lima e polpa de fruta entram como métricas para o índice 2020. Outra tendência de consumo que aparece na lista são os produtos de consumo rápido, como macarrão instantâneo, suco em pó e alimento infantil.
Alguns itens são preocupantes, como a entrada de antidiabéticos, neurológicos e óculos de grau como itens de saúde e cuidados pessoais. O primeiro item possui uma ligação direta com a recente pesquisa do Ministério da Saúde, que mostrou que o número de obesos no país aumentou 67,8% entre 2006 e 2018, atingindo o maior índice de obesidade nos últimos treze anos.
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Tratamento e higiene de animais domésticos são uma tendência observada na nova lista de consumo do brasileiro. Outros exemplos que passarão a fazer parte do cálculo da inflação oficial são serviços relacionados à vida saudável e estética, como sobrancelha, cabeleireiro e barbeiro, depilação e atividade física. Ainda na parte de despesas pessoais, a atualização da pesquisa retira também itens que perderam espaço ou foram excluídos do orçamento das famílias, como aparelhos de DVD, assinatura de jornais e máquinas fotográficas. A entrada dos smartphones no cotidiano fizeram os dois itens saírem e darem espaço para conserto de aparelho celular.
Outra tendência que se observa é a inclusão de serviços de streaming, tv por assinatura, combo de telefonia e videogames ganhando espaço na nova lista. Com o fim dos CDs e DVDs, as famílias brasileiras passaram a abrir mão do aparelho de DVD e o conserto do aparelho de som. Com as novas formas de consumir conteúdo, antena e telefone público deram espaço para a preferência pelo pacote de internet.
“Ficamos muito tempo sem ter uma POF e temos uma mudança cada vez mais rápida no padrão tecnológico. Tivemos a saída de alguns itens que realmente não encontramos mais. Ao mesmo tempo, tivemos a entrada de produtos que estão no cotidiano de milhões de brasileiros”, explicou o gerente de Índice de Preços do IBGE, Pedro Kislanov.
No quesito transporte, uma das tendências do novo índice explícita a nova forma de consumo do brasileiro. Lubrificação e lavagem deram espaço para transporte por aplicativo e integração no transporte público. Além disso, em artigos de residência, conserto de bicicleta foi outro aspecto ligado a mobilidade que aparece na nova listagem.
Outra importante alteração está no peso do grupo transportes do IPCA, que pela primeira vez será o principal componente da inflação, com 20,8% do indicador, apesar de reduzir sua representação, que era de 22%. O grupo superou alimentação e bebidas, que diminuiu a participação de 22% para cerca de 19%. Houve redução no peso do transporte público, que passou de 4,50% para 3,16%. Adicionalmente, foram incorporados bilhetes de integração de transporte público (0,07%) e transporte por aplicativo (0,21%). Também nesse grupo, o peso de 11,66% do veículo próprio indica o comprometimento dos orçamentos das famílias com produtos e serviços como emplacamento, seguro e estacionamento.
Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula a inflação das famílias com rendimento de um a cinco salários mínimos, seguiu com alimentação e bebida como o grupo de maior peso, porém reduzindo sua participação de 27,3% para cerca de 21,5%. Diferentemente do IPCA, transportes teve ganho de participação de cerca de 1,8 ponto percentual, chegando a 20%.
“O aumento no peso do transporte pode ser explicado pela menor quantidade de opções desse serviço, enquanto na alimentação, as famílias têm mais facilidade em trocar alguns produtos por outros, para economizar”, explicou o gerente de Índice de Preços do IBGE.
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