A transformação digital é um movimento que afeta – além da indústria – o setor público. A sociedade já mostra os reflexos da inserção acelerada da tecnologia, principalmente em sua infraestrutura. O que estamos testemunhando é a ascensão das smart cities, ou cidades inteligentes. E com essa verdadeira revolução tecnológica, governos e empresas ao redor do mundo já começaram a se movimentar para adotar soluções inovadoras que beneficiem a população.
Toda transformação urbana, econômica e social exige a utilização de ferramentas inovadoras a fim de se “fazer mais com menos”. Esse é um dos grandes benefícios da tecnologia em ascensão: com o mundo digital e físico cada vez mais interligados, é possível encontrar soluções mais eficientes para cada situação específica.
Por exemplo, algumas cidades do Brasil já utilizam um sistema desenvolvido nos Estados Unidos que possibilita a rápida revisão e reordenação das políticas públicas na área de segurança. Chamado de Sistema de Detecção de Disparos de Armas de Fogo (SDD), implementado no Rio de Janeiro, por meio de um sistema acústico com sensores de áudio camuflados instalados em diversas regiões de áreas urbanas, capta as ondas e identifica de onde tiros são disparados. O sistema é inteligente e possui mecanismos de assinaturas acústicas para distinguir disparos de armas de fogo de outros barulhos “semelhantes”, como fogos de artifício.
O sistema é “simples”: em caso de disparo dentro do perímetro coberto pelo captador de áudio, o barulho do tiro é captado e, então, a central telefônica da polícia ou de qualquer outro órgão de segurança pré-programado é acionada. A utilidade deste equipamento está justamente no fato de permitir uma ação rápida da polícia, pois o local do disparo é conhecido no momento em que ele ocorre.
Em São Paulo, é um sistema de câmeras para registro (em áudio e vídeo) de intervenções policiais. Anunciado em abril de 2019, inicialmente a implantação se dará em seis unidades — quatro delas na capital e as demais em Santos e Sorocaba. Ainda em abril, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo anunciou o programa Dronepol, sistema de drones conectados ao Olho de Águia para transmissão de imagens em tempo real ao Centro de Operações da Polícia Militar (Copom).
Sobre o Olho de Águia: É um sistema que possibilita a captação, transmissão, gravação e gerenciamento de imagens de interesse da Segurança Pública, ou seja, monitora, em tempo real, os cenários encontrados durante a execução das atividades de policiamento ostensivo e preventivo. A captura e a transmissão das imagens podem ser feitas por via aérea, com a utilização de um helicóptero Águia, e via terrestre, por motocicletas equipadas com o kit tático. Atualmente, há cinco kits, três com transmissão online, sendo dois via internet e um via rádio, e dois em helicópteros Águia.
“O custo operacional para drone de alta tecnologia é 140 vezes menor do que o custo operacional de um helicóptero Águia da Polícia Militar. Com segurança absoluta, porque você não tem recursos humanos. E a funcionalidade e eficiência chega a ser superior, dado ao fato de que o drone pode fazer voos em baixa altitude”, afirmou o governador João Doria.
Atualmente a Polícia Militar de São Paulo conta hoje com 15 núcleos habilitados para operacionalização dos drones, sendo que nove possuem os equipamentos. Do total, dois núcleos estão no interior e litoral sul, o 28º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I), em Andradina, e Comando de Policiamento do Interior 6 (CPI-6), em Santos. Na Capital, contam os aparelhos, o Centro de Comunicação Social da PM (CComSoc), o 47º Batalhão de Polícia Militar Metropolitano (BPM/M), o Comando de Policiamento de Área Metropolitana 9 (CPA/M-9), a Diretoria de Ensino e Cultura e o Comando do Corpo de Bombeiros. A previsão é que até o final do ano os drones cheguem a 71 núcleos.
Já em Tel Aviv usa um sistema integrado de câmeras inteligentes com sensores para identificar atividades suspeitas. Vale destacar que a transmissão de dados dessas câmeras é feita por meio da iluminação pública, reduzindo os custos com esse sistema.
Outro exemplo prático do uso de tecnologia vem da polícia de Chicago, que está testando smartphones Samsung em substituição aos antigos notebooks em seus carros. A versatilidade, somada ao poder computacional desses pequenos dispositivos está, aos poucos, tornando obsoletos os equipamentos mais antigos e volumosos, principalmente para policiais e socorristas que precisam usar essas máquinas em ambientes muito distintos.
Atualmente, os policiais usam computadores em quase todas as ações que participam, verificando placas de veículos e documentos de pessoas, fazendo anotações, checando fotos ou preenchendo relatórios. Isso engloba diversos dispositivos em separado, porém a facilidade dos smartphones modernos levantou questões sobre se todos esses pontos de acesso poderiam ser consolidados em um único dispositivo móvel.
Essa é a premissa de um programa piloto anunciada no último dia 21 de agosto pelo Departamento de Polícia de Chicago, em parceria com a Samsung. Nos próximos meses, a polícia removerá os computadores de bordo – terminais portáteis de dados (PDTs), como são chamados há décadas – de cerca de 20 carros patrulha do 11º Distrito de Chicago e os substituirá pelos smartphones Galaxy, monitores sensíveis ao toque e teclados que podem ser usados juntos com a solução “DeX In-Vehicle” da Samsung.
O resultado será uma solução mais barata e menos complicada do que os PDT modernos, e sem perda de funcionalidade. Jonathan Lewin, chefe do Departamento de Serviços Técnicos do Departamento de Polícia de Chicago, disse que “os antigos e grandes laptops estão obsoletos. A polícia utilizava máquinas rudimentares – com comunicação baseada em texto – em seus veículos desde a década de 1970 e laptops desde 1995, e não há nada nos PDTs mais modernos que os smartphones não possam substituir.”
“O conceito é ter um ecossistema em que o dispositivo possa ir com o oficial em qualquer lugar, permitindo que eles se conectem ao departamento de qualquer local, seja na rua, no carro ou em qualquer delegacia de polícia. Essa flexibilidade e custo reduzido são importantes para ampliar a mobilidade em toda a empresa”, afirmou Lewin. “É uma solução bastante eficiente, um daqueles raros momentos em que você reduz custos, melhora a funcionalidade e adiciona a potência da computação, tudo em um único pacote”.
De acordo com Reg Jones, chefe de vendas e soluções do setor público da Samsung Electronics America, com o DeX um smartphone pode se conectar a um monitor via cabo HDMI para uma experiência similar ao PC, incluindo a capacidade de realizar aplicações multitarefa, com janelas redimensionáveis, atalhos de teclado e diversas funcionalidades. Nos últimos dois anos a Samsung fez parcerias para ver como o DeX poderia melhorar o trabalho de oficiais e socorristas, segundo Jones. O kit desenvolvido – smartphones, plataformas, telas e teclados Galaxy sendo testados em Chicago – tem vantagens potenciais em custo, ergonomia e mobilidade.
A maioria dos laptops robustos custa mais de US$ 3.500, além da montagem e configuração, explica Jones. Um smartphone é vendido entre US$ 700 e US$ 900, com monitor e teclado que custam entre US$ 750 e US$ 1.500, chegando em torno de US$ 2.500 no total.
A configuração do DeX também ocupa bem menos espaço na frente de uma viatura repleta com outros equipamentos, sendo mais fácil de utilizar com um teclado e monitores desconectados, permitindo que os policiais continuem usando os mesmos dados e aplicativos onde quer que estejam, incluindo a troca de viaturas.
Lewin afirma que a maior economia prevista com a substituição de PDTs por smartphones viria de taxas de hardware e do uso de antenas específicas, pois os departamentos poderiam reduzir – ou mesmo eliminar – a conexão de modem de seus veículos, que são linhas celulares separadas. “Qualquer operadora de telecomunicações subsidiará o custo do telefone, e você estará economizando no custo desses grandes e robustos laptops. Assim como será possível economizar potencialmente os custos de alguns desktops”, afirmou ele. “Se todos os seus policiais estiverem equipados com smartphones, que é para onde estamos caminhando, você não estará pagando taxas extras separadamente por veículo”.
Ele também reconheceu que os desktops ainda estarão presentes no futuro, pois certos aplicativos simplesmente não se adaptam bem em um smartphone. Mas quando Lewin perguntou aos policiais se os smartphones ajudavam a fazer seu trabalho, eles disseram que sim, porque o acesso rápido ao ShotSpotter, a uma câmera de vídeo portátil e outros aplicativos são muito importantes. Além disso, afirmaram que os computadores das viaturas são mais complicados de usar, sendo muito grandes e difíceis de posicionar.
“Acho que você verá uma maior consolidação da tecnologia em menos dispositivos. Não posso falar que os outros departamentos farão, mas desde que anunciamos isso, já recebi ligações de outros departamentos, incluindo grandes cidades e estados, que também estão de olho nisso”, disse ele. “Existem outras repartições menores que já fazem isso há algum tempo. Portanto, enquanto não estamos prontos para uma implementação completa, nos sentimos confortáveis com o andamento dos testes neste momento”.
O Departamento de Polícia de Chula Vista, na Califórnia foi outra unidade que também anunciou um piloto semelhante no início deste ano. Em suma, por meio da colaboração entre tecnologias, governos e sociedades inteiras podem lançar mão de recursos objetivos para a construção de melhor qualidade de vida dos cidadãos e integrar os diferentes setores da administração pública.
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