Desde o Período Neolítico (ou Pedra Polida), quando o homem deixou de ser nômade e a agricultura surgiu, nós não paramos mais de crescer em comunidades. Ao longo da história humana, ter um aldeia com milhares de pessoas era algo impensável, mas nossas aldeias modernas extrapolam esse volume de gente. Atualmente, as maiores cidades do mundo reúnem milhões de pessoas em um ecossistema complexo e caótico. E a coisa toda não deve parar por aí, mas veremos mudanças profundas nas próximas décadas.
Começando pela localização. Segundo pesquisadores do Global Cities Institute, em 2100, as maiores cidades do mundo não estarão na China, Europa ou EUA. Em um estudo divulgado em 2014, Daniel Hoornweg e Kevin Pope afirmam que as 13 maiores cidades do mundo em 2100 estarão localizadas no continente africano. São Paulo, a única representante brasileira no ranking atual, deve perder posições para cidades como Kinshasa, no Congo, e Niamei, no Níger.
Acreditamos que aqui vale um parênteses para falarmos sobre o termo “megacidade”. Ele surgiu em meados da década de 90, quando especialistas da ONU classificaram grupos de cidades com 10 milhões de habitante ou mais. De acordo com o IBGE, em julho de 2018, a cidade de São Paulo já possuía pouco mais de 12 milhões de habitantes. Já os números de Pequim são ainda maiores. São quase 22 milhões de pessoas. Apesar de terem tamanhos bem diferentes, ambas as cidades já extrapolam o conceito de megacidade.
Voltando ao estudo, ele foca nos fatores socioeconômicos e ignora outros fatores, como cultura, imigração e outros. Veja bem, os pesquisadores não estão errados. Vários sinais indicam que a África será atingida por uma onda de crescimento nos próximos anos, mas será que isso será o suficiente para ultrapassar algumas megalópoles?
Mineápolis está longe de ser considerada uma das maiores cidades do mundo. Seus quase 400 mil habitantes coloca a cidade na 48ª posição de cidade mais populosa dos EUA, mas a cidade está olhando para o futuro com muita atenção e engajamento. Entre os dias 22 de março e 22 de julho de 2018, a prefeitura da cidade apresentou e discutiu o primeiro esboço de planejamento territorial metropolitano. Como resultado de mais de 100 reuniões com residentes e empresários, e dois anos de discussões, o plano prevê ações para que todos se beneficiem com o crescimento populacional e econômico da região.
Entre os objetivos, estão questões como: Eliminar disparidades de renda, oportunidades, moradia, segurança e saúde; Habitação acessível para todos; Resiliência às mudanças climáticas e redução de 80% nas emissões de gases do efeito estufa; entre outros. Lembrando nosso texto anterior, “Design Thinking: Uma introdução ao tema”, a cidade de Mineápolis adotou a abordagem de colocar as pessoas no centro do problema para, desta forma, encontrar soluções mais empáticas e abrangentes. Para quem quiser saber mais sobre o projeto Mineápolis 2040, o Conselho Municipal da cidade mantém um website com as últimas revisões do planejamento.
Um dos temas mais polêmicos do plano Mineápolis 2040 é o redesenho do zoneamento da cidade. Assim como várias regiões territoriais dos EUA (do Brasil e do mundo), a cidade banhada pelo rio Mississipi sofre com uma crise habitacional. Cerca de 75% da população da cidade mora em áreas que só permitem residências familiares ou pequenos prédios. A ideia do plano é abrir espaço para edificações maiores e com uma maior densidade populacional.
Mas pensar a verticalização de Mineápolis, por mais polêmica que seja, é fácil. E as cidades que já passaram desta fase? Cidades como Nova York ou São Paulo, onde a densidade populacional varia dos 8 a 10 mil habitantes por km². Se levarmos em conta que, em 2050, estima-se que 70% da população mundial (aproximadamente 9,6 bilhões de pessoas) viverão em áreas urbanas, a única saída para comportar tanta gente é subindo.
Uma das saídas, conforme apontam alguns futurólogos e analistas, é comportar mais pessoas em níveis. Agora pense isso em uma escala maior, onde bairros se interconectam por meio de vias suspensas e passarelas se ligam entre arranha-céus. Seria um novo estágio para as megacidades. Segundo Mariana Morais, consultora do Tellus e cofundadora do Instituto COURB, “na verdade, avançar em altura é uma saída apontada para comportar esse crescimento, mas talvez não a mais adequada. Um dos objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, por exemplo, é que até 2030 as cidades se tornem lugares sustentáveis e inclusivos de se viver, a ideia é que progressivamente haja um rearranjo da forma em que vivemos.”
O grande desafio é conseguir pensar na construção destas cidades a partir de abordagens de Design Thinking para planejar seu crescimento considerando as pessoas no centro das decisões e a empatia pode ser colocada de lado, gerando níveis de disparidade social nunca imaginado, assim como já pensamos um dia, ser impossível ter “aldeias” com milhares de pessoas.
Créditos: Imagem Destaque – KHIUS/Shutterstock
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