Cazaquistão: Desafios da segurança cibernética e a transformação digital

Cazaquistão: Desafios da segurança cibernética e a transformação digital

A transformação digital é um movimento que está bem adiantado em boa parte do mundo. À medida que a tecnologia muda drasticamente o modo como as empresas e governo oferecem serviços, temos países que ainda buscam desenvolver estratégias a fim de massificar o uso da tecnologia e fomentar resultados, enquanto outros já investem há alguns anos na transformação digital de suas empresas e dos setores públicos.

Percebemos com isso a necessidade de uma adequação às novas exigências dos mercados e dos “cidadãos digitais”, que exigem não apenas qualidade de produtos e serviços: eles buscam uma experiência satisfatória e completa, baseada na transformação digital.

Cazaquistão: Uma história convincente

O Cazaquistão, um país da Ásia Central e antiga república soviética, se estende ao longo do Mar Cáspio, e faz fronteira oriental com a China e Rússia. Sua maior metrópole, Almaty, é um antigo centro comercial. A população do país, de pouco mais de 18 milhões de pessoas em 2017, moveu recentemente sua capital de Astana para Nursultan.

A porcentagem de usuários da internet no Cazaquistão ultrapassa 81% da população – o que não é muito distante dos 70% da população no Brasil que utiliza a rede. Porém, o país está envolvido em uma série de esforços ambiciosos de novas tecnologias, com métricas detalhadas, que afetam todas as áreas do mercado. O país está atualizando rapidamente suas infraestruturas e buscando novas e inovadoras soluções.

O programa Cazaquistão Digital inclui cinco objetivos principais:

  1. Digitalização dos ramos da economia – reorganização dos ramos tradicionais da economia, usando tecnologias e novas possibilidades, que aumentam a produtividade do trabalho e levam ao crescimento da capitalização;
  2. Transição para o estado digital – transformação da infraestrutura do estado para fornecer negócios e serviços para a população, antecipando suas demandas;
  3. Implementação do Silk Way Digital – desenvolvimento de uma infraestrutura de alta velocidade e segurança para transferência, armazenamento e processamento de dados;
  4. Evolução dos ativos de capital humano – mudanças transformacionais, compreendendo a formação da sociedade criativa e a transição para as novas realidades – uma economia baseada no conhecimento;
  5. Formação de ecossistemas – desenvolver o empreendedorismo tecnológico, com relações estáveis ​​entre empresas, domínio acadêmico e estado, bem como introdução de inovações na indústria.

O esforço do Cazaquistão Digital inclui muitos aspectos de tecnologia, mas é preciso entender como o país se envolve com a transformação digital, sua estratégia e planos gerais de segurança cibernética para a nação. Embora algumas das ações e resultados não possam ser compartilhadas, a maioria é tornada pública. Por exemplo, até a presente data, foi desenvolvido o conceito de “Cyber ​​- Shield of Kazakhstan”, com o objetivo de atingir e manter o nível de proteção dos recursos eletrônicos de informação, sistemas de informação e infraestrutura de TIC contra ameaças externas e internas, que garantiria o desenvolvimento sustentável do Cazaquistão em um contexto de concorrência global.

Para a proteção de dados pessoais, a agência de proteção de dados operará com base no Regulamento Geral da Lei de Proteção de Dados (aqui no Brasil temos a LGPD), que se aplica aos países da União Europeia.

Desigualdades do mercado digital

Podemos perceber que a transformação digital está vinculada a pontos distintos, como infraestrutura e segurança das informações, e temos países em estágios diferentes de sua aplicação. Regulamentações, políticas e nível de desenvolvimento econômico afetam diretamente a indústria digital e empresas que desejam atuar no ramo da tecnologia ou utilizar aplicações e soluções em suas operações.

Países como a China, que possuem um mercado digital gigantesco devido ao número de potenciais usuários, dificultam a entrada de players externos por meio de regulamentações, criando um ambiente paralelo com empresas locais. Já a Índia, que possui cerca de 462 milhões de usuários ativos na internet, tem uma infraestrutura precária que afasta o surgimento de players significativos — sem contar o fato de que qualquer empresa interessada nesse mercado deverá operar em várias línguas e dialetos.

Quando falamos em países desenvolvidos, existe um movimento de transformação digital muito mais acelerado por conta de grandes infraestruturas, maior liberdade econômica e homogeneidade no mercado digital. Por exemplo, a União Europeia tem hoje cerca de 412 milhões de usuários e um dos maiores campos de oportunidades para empresas de produtos e serviços digitais.

Os Estados Unidos seguem sendo um dos territórios mais desenvolvidos quando o assunto é Transformação Digital, sendo lar de várias startups que vieram a se tornar as maiores gigantes de tecnologia da atualidade.

O desenvolvimento no Brasil

O país tem o segundo maior potencial de transformação digital do mundo, atrás apenas da Índia. Isso ocorre devido o Brasil contar com muitas empresas novas e – felizmente – com o surgimento de ótimas ideias. Esse tipo de organização, com pouco tempo de mercado, está mais sujeita a aceitar e encontrar bons resultados ao adquirir iniciativas digitais em seus processos. Enquanto boa parte das empresas que compõem os mercados desenvolvidos já tem uma cultura enraizada, um mercado que conta com empresas novas está muito mais sujeito ao obter resultados com a Transformação Digital. Afinal, no Brasil somos em 210 milhões de pessoas com bom poder de compra — mesmo em épocas de crise.

Desafios cibernéticos que acompanham a inovação do século XXI

São bastante impressionantes os esforços pelo governo do Cazaquistão para a transformação digital, bem como com a forma como buscaram conhecimento e contribuições internacionais e o foco na segurança das informações. Dados do IDC Brasil mostram que governos em todo o mundo estão dando diferentes níveis de prioridade à segurança cibernética.

A cibersegurança nacional deve ser vista em dois aspectos: a proteção dos sistemas de ativos estatais para que o tudo possa funcionar e a proteção geral da economia e da população. O primeiro pode ser planejado, centralizado e controlado; o segundo o estado deve orientar, educar e influenciar de maneira mais indireta.

No primeiro aspecto o Cazaquistão investiu e os recursos online do governo estão muito bem protegidos. Porém, na proteção geral da economia e da população está o elo mais frágil. Segundo a Kaspersky, trata-se do quarto país do mundo quando o assunto é infecção online. A infecção por malware é uma das formas mais perigosas de risco cibernético – o Wannacry, por exemplo. O IDC descobriu que eles estão intimamente relacionados à taxa nacional de software não licenciado – ou seja, a pirataria.

É necessária a conscientização e a criação de uma cultura de segurança cibernética, incluindo treinamentos voltados para a tecnologia e a força de trabalho. Os governos de todo o mundo precisam evitar a “síndrome do avestruz” – problemas, ataques, vulnerabilidades devem ser discutidos abertamente e não ocultados, esperando que ninguém perceba.

Além disso, planos de resposta a ciber incidentes são importantes e precisam ser definidos, tanto na questão de escala quanto em velocidade. Os treinamentos de segurança para os funcionários do governo podem ser realizados de maneira frequente e até utilizando jogos, tornando-os divertidos.

Sem dúvida, existem muitas diferenças nas atividades cibernéticas internacionais em diferentes culturas e regiões, mas também existem muitos planos, metas e esforços em andamento no combate ao crime cibernético e na construção de economias digitais do século XXI. Precisamos todos trabalhar juntos como nações, além de compartilhar as melhores práticas que funcionam para os governos e para o setor privado.

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