Inovação na saúde: IA em hospitais públicos de Goiânia e atestados digitais em Cingapura

Inovação na saúde: IA em hospitais públicos de Goiânia e atestados digitais em Cingapura

Pequenas revoluções em processos, sistemas e procedimentos ocorrem constantemente, quase sempre com o intuito de deixar a nossa vida mais fácil, rápida e segura. E o setor de saúde já entendeu que precisa aproveitar todas as vantagens que as evoluções tecnológicas podem trazer. Esta é uma das áreas que mais incorpora inovações, mas também tem grandes desafios quando o assunto é atendimento.

Principalmente na triagem de pacientes e no pós atendimento, os processos são diversos e, na grande maioria, não envolve processos digitalizados. Quando temos algum problema de saúde, um dos maiores desafios enfrentados pela força de trabalho é ter que entregar aquele pedaço de papel que atesta que sua licença médica foi aprovada por um médico.

Uma das formas para resolver isso é a implantação do atestado médico digital. A emissão de um documento digital é um passo importante para reduzir – e até acabar – com fraudes relacionadas a atestados em papel e permitir um levantamento preciso dos principais problemas de saúde que causam faltas no trabalho. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (ABRAMGE), cerca de 30% dos atestados emitidos no país são falsos.

Em Cingapura, cerca de um milhão de atestados físicos foram produzidos pela SingHealth – sistema público de saúde do país – em 2017. A fim de resolver essa situação no país asiático, a divisão Open Government Products (OGP) do governo, em parceria com uma govtech, desenvolveu uma plataforma para fornecer um certificado médico digital. Chamado de DigiMC, esse sistema permite que os pacientes enviem seus certificados médicos (os MCs) por e-mail para seus empregadores.

Isso faz com que clínicas e hospitais públicos também possam gerar e controlar todos os certificados médicos em formato digital, agilizando os processos. E para que o serviço funcione, é necessário atender a três critérios:

  • MCs digitais devem ser verificáveis ​​como cópias verdadeiras;
  • Compartilhar entre profissionais de saúde, pacientes e empregadores;
  • Fácil de incorporar nos fluxos de trabalho existentes.

O sistema já possui uma interface de criação de MC existente, na qual os médicos podem salvar todas as informações. Em seguida, ele gera um MC digital e uma URL será enviada para o número de telefone registrado do paciente via SMS. Esse mesmo link da URL pode ser encaminhado aos empregadores.

Preocupações de segurança: O grande desafio dos dados

Todo o sistema deve ter uma preocupação com a questão da privacidade, afinal são informações confidenciais sendo compartilhadas por meio de serviços online. No Brasil, esse tema tem ganho ampla discussão devido a Lei Gerak de Proteção de Dados (LGPD) – leia mais aqui.

Por isso, a OGP criou recursos a fim de minimizar ocorrências de violação de segurança. Isso inclui uma proteção que permite apenas que os usuários acessem seus MCs digitais, desbloqueando o acesso com a data de nascimento e senha.

Para evitar o envio do link da URL que contém o MC digital para o destinatário errado, a verificação física ainda deve ser feita pelo paciente, atualizando seu número de celular no sistema. Se o número de celular errado tiver sido fornecido, o sistema de bloqueio que exige a data de nascimento e senha funcionará como mais uma camada de segurança.

No Brasil: Inteligência artificial no processo de triagem de hospitais públicos

O uso de inteligência artificial e o auxílio da tecnologia via parcerias também têm bons avanços no setor público do Brasil. A Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI), responsável por gerir sistemas de diagnóstico por imagem na rede pública de saúde, acaba de implantar, em parceria com a AIDOC, startup focada em inteligência artificial aplicada à radiologia, um projeto de inteligência artificial aplicado nos exames de tomografia de crânio e de coluna cervical realizados em três hospitais públicos de Goiânia.

A tecnologia identifica lesões em tomografias por meio de inteligência artificial, auxiliando e sinalizando via sistema que o paciente deve ter o atendimento e o laudo priorizados. Desde a implantação do projeto, no início deste ano, 92% dos casos em que havia sangramentos foram devidamente detectados e priorizados pelo algoritmo.

Processo e segurança: Como funciona o sistema de inteligência artificial

O processo funciona da seguinte maneira: ao realizar um exame, as imagens seguem para o servidor da FIDI, que identifica se é uma tomografia de crânio, oculta os dados do paciente e envia para o servidor da AIDOC na nuvem. As imagens são devolvidas para o servidor com as marcações das lesões, se houver. Os dados do paciente são inseridos novamente no exame, que segue para a central de laudos dos hospitais públicos.

Na central, o sistema prioriza automaticamente o exame que apresenta quadro grave, permitindo ao médico radiologista analisar e laudar mais rapidamente, acelerando o atendimento ao paciente. “É importante salientar que as imagens que seguem para o servidor da AIDOC continuam simultaneamente disponíveis na central de laudos da FIDI, ou seja, o uso da ferramenta não inviabiliza o trabalho já realizado normalmente”, explica Igor dos Santos, Médico Radiologista e Chefe de Inovação da FIDI.

O objetivo não é substituir com toda a tecnologia o capital humano no processo de análise e elaboração de laudos, já que todos os processos são feitos pelos médicos radiologistas dos hospitais públicos, e sim dar ainda mais precisão e agilidade ao profissional. “Todo desenvolvimento tecnológico é usado em benefício do paciente. Com a ferramenta, nós agilizamos o atendimento de pessoas com quadro mais grave e que nem sempre é visível antes da análise do exame”, afirma Santos.

Em novembro de 2017, a ferramenta recebeu o CE Mark, certificação da União Europeia que atesta a aplicabilidade e segurança de dispositivos médicos. Além disso, o software recebeu autorização da Food and Drug Administration (FDA) órgão governamental dos EUA que faz a regulação dos alimentos, suplementos alimentares, medicamentos (humano e animal), cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos derivados do sangue humano, tornando-se a primeira empresa a ser aprovada pelo governo americano para fazer a triagem de pacientes com IA.

Isso concretiza no Brasil o primeiro projeto de pesquisa de inteligência artificial no diagnóstico por imagem em hospitais públicos. A expectativa é oferecer atendimento qualificado no menor tempo possível em casos de traumatismos, acidente vascular cerebral e outras situações que determinem dano cerebral, a fim de reduzir sequelas e até mesmo salvar vidas.

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