Dando continuidade à lista de 10 previsões para 2019, segundo a Nesta. No primeiro texto falamos sobre a revolução no mercado jurídico, as novas formas de financiamento para inovação, ciência cidadã, as novidades no cenário das tecnologias assistivas e superbactérias. Novidades que parecem ter saído de uma história de ficção científica, mas são a mais pura realidade e têm tudo para se tornarem o “novo normal”, segundo Celia Hannon, diretora de explorações da Nesta.
Acessar uma plataforma de atendimento ao consumidor e falar com uma inteligência artificial é algo mais comum do que você imagina. Mas a IA não se limita a fazer troca de produtos, ela está cada dia mais presente no nosso cotidiano. Recrutamento e seleção de currículos, contabilidade, diagnósticos médicos, a presença de sistemas com inteligências artificiais se aplicam nos mais diversos cenários. Segundo o pesquisador Matt Sokes, “2019 será o ano em que exigiremos o direito de saber se estamos falando com um humano ou um robô”.
Desde que o Google Duplex foi apresentado, uma onda de discussões têm norteado o tema sobre até onde devem ir as inteligências artificiais. O Teste de Turing, criado por Alan Turing nos anos 50, já não se aplica mais a realidade das máquinas (o teste era usado para distinguir humanos e máquinas). Segundo a Nesta, esse ano vamos entender novas formas de nos relacionarmos com as máquinas, mesmo que sejam em pequenas atividades do cotidiano.
Nem tudo são flores nas previsões da Nesta e não devemos acreditar em tudo que os nossos olhos veem. Em 2019, os vídeos “deepfakes” farão nos questionarmos sobre o real significado da palavra verdade. Mas, afinal, o que são os vídeos deepfakes? Em 2017, pesquisadores da Universidade de Washington, nos EUA, treinaram um algoritmo de inteligência artificial para imitar as expressões faciais e a voz do presidente Obama, permitindo que a equipe criasse vídeos do ex-presidente fazendo discursos, usando palavras de entrevistas antigas e em contextos muito diferentes.
Mais recentemente, a agência de notícias estatal chinesa Xinhua apresentou o primeiro âncora de notícias gerado por inteligência artificial. No Instagram, marcas como Prada, Diesel, Dior e Supreme já usaram “influenciadores digitais não reais” e modelos virtuais, personagens 3D hiper realistas que substituem os contratos caros de celebridades, para campanhas publicitárias. Outro exemplo é a influenciadora digital Miquela. Com 1.5 milhões de seguidores, ela não existe no mundo real. É um robô digital com visual de uma jovem.
Vestibulares que duram horas, consomem uma infraestrutura gigantesca e seguem um formato antiquado. Segundo os pesquisadores Toby Baker e Laurie Smith, a partir de 2019, a inteligência artificial começará a avaliar continuamente os alunos, tornando os exames cada vez mais desnecessários. De acordo com a Nesta, “os problemas com os exames são bem conhecidos por quem já passou por um deles. Os futuros dos alunos são decididos pelo desempenho apresentado em um único exame, por algumas horas e em um único dia.”
Mas e se os alunos pudessem ser rastreados continuamente, ao longo de suas carreiras escolares – de trabalhos de casa a questionários semanais, conforme absorvem novos conhecimentos? A necessidade de uma temporada de exames e todos os problemas de ansiedade, estresse e saúde mental associados ao período desapareceriam. A partir de 2019, a inteligência artificial nos levará a repensar seriamente a forma como avaliamos os novos estudantes e suas carreiras escolares.
Em 1958, quando a antiga União Soviética lançou o satélite Sputnik 1, isso acabou gerando um grande impacto psicológico na sociedade americana. Mesmo sem a grandiosidade dos pousos lunares e dos foguetes espaciais, uma nova “corrida espacial” pode estar começando com o movimento das cidades inteligentes.
Apesar do conceito de cidade inteligente ser algo antigo, o projeto chinês ET City Brain, lançado em setembro de 2016 pela gigante de tecnologia Alibaba e várias cidades, segue na vanguarda deste cenário. Testado pela primeira vez em Hangzhou, a cidade natal do presidente executivo do Alibaba, Jack Ma, o ET City Brain reúne grandes quantidades de dados dos sensores espalhados por uma determinada região, que são processados por supercomputadores e realimentados em centros de controle ao redor da cidade para os administradores agirem – em alguns casos, a automação significa que o sistema funciona sem nenhuma intervenção humana.
Usado para monitorar o congestionamento em Hangzhou, melhorar o tempo de resposta dos serviços de emergência em Guangzhou e detectar acidentes de trânsito em Suzhou, o sistema usa inteligência artificial para ajudar na administração pública. Em Hangzhou, por exemplo, o Alibaba recebeu o controle de 104 cruzamentos e seus semáforos, e encarregou-se de gerenciar os fluxos de tráfego.
Ao combinar a vigilância por vídeo com dados em tempo real dos sistemas de transporte público, a ET City Brain foi capaz de mudar autonomamente semáforos para que os veículos de emergência pudessem viajar para cenas de acidentes sem interrupção. Como resultado, os horários de chegada das ambulâncias melhoraram em 49%.
Ao contrário da duração de um dia ou de um ano, a duração de uma semana é uma construção inteiramente humana. Muito mudou através da história, mas houve pouco acordo sobre a forma que deveria ser. A semana já foi composta por dez dias, oito dias e quatro dias, começando no domingo, sexta ou terça. Para muitas pessoas, a semana de trabalho moderna de cinco dias e 40 horas pode parecer uma instituição imutável, mas o conceito foi construído em fundações mais rasas do que muitos imaginam.
Uma pesquisa recente descobriu que menos de 6% dos trabalhadores do Reino Unido realmente trabalham das 9h às 17h e 42% já trabalham “flexivelmente”. Com a entrada da geração Z no mercado de trabalho, o modelo de “semana de trabalho” tende a mudar e ser repensada.
Além disso, as tendências que impulsionam isso vêm se acumulando ao longo dos anos. Globalização significa que os serviços ou mercados estão sempre “ligados”; a cada hora, um novo fuso horário acorda e outro adormece. Os smartphones são nossos companheiros constantes. Somado a este cenário, temos trabalhadores por turnos, aqueles que trabalham em indústrias cujo horário nobre é, por definição, a hora de lazer ou “after hours” (como funcionários do bar, faxineiros, taxistas, etc.). Em 2019, será hora reconhecer que uma mudança fundamental está ocorrendo no padrão de nossas vidas e de nosso mundo, e iremos repensar o nosso formato de semana.
Créditos: Imagem Destaque – Por Golden Sikorka
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