Quais as competências para a vida da nova geração? Como os jovens vão se preparar para os desafios da vida adulta? Antes de respondermos estas questões, vamos voltar um pouco e entender o cenário. No texto “10 tendências e tecnologias inovadoras para 2019 – Parte 1”, o InovaSocial destaca como um dos pontos importantes para o ano a ascensão da Geração Z. “Nascidos a partir de 2001, a Geração Z deve superar os Millennials em 2019 e representarão um quinto da força de trabalho mundial (além de representarem 32% da população mundial), segundo a ONU. De acordo com o Código Civil brasileiro, a primeira leva da Geração Z passará a ser ‘maior de idade’ ainda este ano. Além disso, ‘pela primeira vez na história moderna, cinco gerações trabalharão lado a lado’, afirma Michael Dell, CEO da Dell, e isso deve gerar mudanças drásticas no local de trabalho.”
Vale falar quem é a geração Z. “Os jovens desta geração são mais realistas e pragmáticos do que os millennials. Eles também não podem ser definidos por rótulos, são mais tolerantes e abertos ao diálogo e levam as coisas com mais humor e leveza, já que não sentem carregar nas costas o peso de mudar o mundo”, diz Tracy Francis, sócia responsável pelos setores de bens de consumo e de varejo da McKinsey na América Latina e uma das responsáveis pelo estudo sobre a geração Z.
Acrescente isso ao fato de estarmos passando pela 4ª Revolução Industrial, com novas formas de ser, estar, consumir e produzir. Um mundo onde robótica, inteligência artificial e big data fazem parte do nosso cotidiano. Para completar, o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking mundial de usuários de internet, mas o potencial é pouco aproveitado para a formação e qualificação profissional. Por fim, vale ressaltar que, no Brasil, a Geração Z representa 30 milhões de jovens, segundo a Revista EXAME. Em resumo, temos uma faixa da população em ebulição, mas pouco aproveitada.
É neste cenário que entra o projeto “Competências para a Vida”, uma iniciativa da United Way Brasil e produzida com apoio da nossa equipe da Agência Tellus. Este é o caso que iremos aprender no texto de hoje, sobre design estratégico. Um projeto que tem como objetivo possibilitar que os jovens de baixa renda que vivem em regiões urbanas (inicialmente na grande São Paulo) ampliem seu repertório, desenvolvam competências socioemocionais e conectem-se às oportunidades existentes, reduzindo as desigualdades sociais e facilitando a construção de projetos de vida, bem como sua inserção no setor produtivo.
O Projeto Competências para a Vida estabeleceu seis premissas que representam os princípios desejados pela United Way Brasil e seus parceiros. Esses pilares compreendem a força da ação coletiva e da corresponsabilização para garantia da qualidade e sustentabilidade do projeto:
Na fase de diagnóstico, foram feitas oficinas de escuta e Design Thinking com 12 instituições, 5 organizações da sociedade civil, 18 atores chaves do cenário, especialistas e mais de 60 jovens, além de oficinas de escuta e cocriação. Com isso, duas perguntas chaves nortearam o projeto:
Ao escutar os jovens, percebemos que termos como “extrovertidos”, “amigos”, “simpáticos” e “determinados” se destacaram. Também foi percebido que o sucesso e o bem estar do outro importam, e existe um forte senso de comunidade e colaboração. Já quando o assunto era “com o que se identificam”, os jovens sinalizaram: esportes (70%), lazer e diversão (63%), relacionamentos (60%), YouTube (53%), leitura (49%), games (47%), família e artes (42%), natureza (33%) e espiritualidade (30%).
Essa perspectiva, somada as percepções dos demais entrevistados, nos levou a concluir que o projeto precisaria ter foco no jovem, na sua jornada pessoal e qualificação profissional. Tendo um programa que valorize a diversidade e possibilite o jovem traçar seus caminhos, sendo estes os mais variados possíveis.
Também identificamos que a necessidade de ações com impacto na vida dos jovens, com encaminhamento e soluções reais após a conclusão do programa. Para as OSCs e os jovens, isso significa acesso e inserção no mercado de trabalho. Para isso, ampliar repertório e ter um mentor que acompanhe essa jornada apareceu como aspecto fundamental.
As etapas seguintes ao Diagnóstico e Exploração foram igualmente norteadas pelas premissas do Design Thinking, da escuta ativa e da corresponsabilização. Um processo que contou com a participação dos representantes das OSCs, da UWB, das instituições parceiras, de especialistas e de jovens com diferentes idades e perfis, buscando assegurar a representatividade e legitimidade das ações coletivamente propostas.
Sendo assim, a jornada do projeto caminhou para as fases de Cocriação e Prototipagem, transformando-se em um programa pedagogicamente relevante, capaz de contribuir para o desenvolvimento de habilidades socioemocionais e construção de projetos de vida que façam sentido aos jovens do século XXI . Com foco em jovens de 15 a 19 anos em situação de vulnerabilidade socioeconômica e/ou afetiva, o Competências para a Vida foi desenhado a muitas mãos para ser viabilizado por meios presenciais e virtuais, permitindo que fosse implementado no Estado de São Paulo, e – no futuro – expandido por meio de uma plataforma virtual.
A jornada do programa compreendeu algumas dimensões que “resumiam” o que jovens, parceiros e especialistas haviam apontado como etapas fundamentais para toda iniciativa que pretende ser disruptiva e deseja alcançar um real impacto na vida dos jovens em situação de vulnerabilidade.
Dividida em quatro módulos e diversas missões (explicaremos melhor abaixo), a jornada mínima do programa foi concebida para durar 3 meses, podendo chegar a 1 ano de duração.
Mas, afinal, o que são os módulos e missões? Os módulos são eixos estruturantes na organização dos conteúdos e estratégias de ensino-aprendizagem do programa. Os quatro módulos conectam-se entre si de maneira complementar e interdependente, respeitam e incluem as dimensões estratégicas e premissas que devem ser atendidas pelo programa. A progressão não é linear, mas indica uma visão em espiral do conhecimento, um conjunto de aprendizagens concomitantes e interconectadas.
“A metodologia permite um acolhimento de perfis distintos dos jovens; interesses e expectativas. É uma escuta que vai além do plano de carreira(…), os caminhos propostos pelos módulos e pelas missões não pensam em carreira, pensam em projetos de vida, que são caminhos flexíveis para o jovem escolher o que ele quer, refletir sobre si mesmo. É um processo de reflexão crítica sobre ‘quem eu sou’ e ‘quem eu quero ser’. Assim podemos realmente valorizar a vida, os sonhos e as escolhas desta juventude”, afirma Thais Milanello, líder do projeto.
Já as missões são as ações, as atividades que dão sentido e “concretude” ao conhecimento que será trabalhado em determinado módulo. O quadro abaixo mostra a visão macro do projeto.
Com a aplicação do design no projeto Competências para a Vida chegamos a três tipos de indivíduos (personas) que funcionam como guias nas trilhas de formação. Esses indivíduos são atores-chave e com elevado grau de influência no processo de aprendizagem dos jovens. Abaixo vamos explicar quem são, como atuam, sua relevância e algumas dicas para cada um dos perfis.
#01: Mentor
Ator responsável por acompanhar o jovem ao longo do programa e por mais um ano após a conclusão do Competências para a Vida. Trata-se de uma ação centrada no diálogo e pensamento crítico e reflexivo, no desenvolvimento das habilidades e competências pessoais e profissionais necessárias para atingir os objetivos estabelecidos – em especial no desenvolvimento e implementação do Plano de Ação.
Sua relevância: Os mentores são atores-chave e podem auxiliar os participantes do programa a desenvolverem uma mentalidade sistêmica, a buscarem se desenvolver pessoal e profissionalmente, a expandir suas potencialidades, dando foco e acabativa ao seu Plano de Ação.
Como atua:
Dicas para o mentor:
#02: Facilitador de Aprendizagem
Ator responsável por acompanhar a trilha de aprendizagem do grupo, fazendo as conexões necessárias entre cada missão (atividades) ao longo da jornada, organizando rodadas de feedback e ajustes de ritmo, sempre que necessário.
Sua relevância: Trata-se de um ator-chave a observar o envolvimento, interesses e necessidades dos jovens, bem como o aproveitamento e rendimento entre atividades, ajudando o grupo a atingir os objetivos de aprendizagem propostos. O facilitador tem função articuladora e conectora. Portanto, é o elemento mediador entre a proposta pedagógica do programa e os demais atores envolvidos.
Como atua: O facilitador auxilia a estabelecer “as pontes” entre cada missão, acolhe e acompanha os educadores, realiza as devidas articulações curriculares e sente o ritmo de aprendizagem dos jovens. Faz-se presente ao longo de toda a jornada, e estabelece contato direto com a equipe gestora do programa e os interlocutores das OSCs.
Dicas para o facilitador:
#03: Educador
Ator responsável por apresentar os novos conteúdos e práticas pedagógicas relacionados ao tema específico do módulo e suas missões. É o “professor”, com domínio técnico e olhar pedagógico dos conteúdos a serem trabalhados junto aos jovens.
Sua relevância: Os educadores com experiência no conteúdo e em metodologias específicas – preferencialmente metodologias ativas – tendem a proporcionar um processo de ensino-aprendizagem mais relevante, envolvente e significativo.
Como atua: O educador realiza as missões, ou seja, os encontros de formação junto aos jovens do programa Competências para a Vida, de acordo com suas competências e saberes específicos. Para que o profissional encontre caminhos que facilitem transferir o discurso pedagógico da teoria para a prática, são necessárias diversas atitudes a serem observadas, bem como inseri-las na prática educacional.
Dicas para o educador:
Agora que já entendemos quem são os atores-chave do programa Competências para a Vida, podemos mergulhar um pouco mais nos módulos. Para não ficar um texto muito grande, vamos passar rapidamente por cada um dos módulos, não nos aprofundando em cada uma das missões.
Módulo Descoberta
O módulo “Descoberta” tem foco no autoconhecimento dos jovens, por meio de missões teóricas e vivenciais que fornecem os conhecimentos e estratégias para se reconhecerem de maneira mais ampla e profunda.
Para criar essa experiência de autodesenvolvimento e autodescoberta, a United Way Brasil e o Grupo Tellus propõe uma jornada composta por missões diversas, de maneira que os participantes passam a desvendar e ressignificar suas identidades pessoais e coletivas, e progressivamente despertar um olhar cuidadoso para o território ao qual pertencem. No início desse módulo, acontece o 1º Ciclo de Autoavaliação e Autoconhecimento.
Abordagens inspiradoras: Investigação Apreciativa; Quatro Pilares da UNESCO para a Educação no Século XXI; Centro de Referências para Educação Integral.
Módulo Propósito
O módulo “Propósito” tem por objetivo auxiliar na reflexão dos jovens sobre seus sonhos, suas ambições e aquilo que desejam para as suas vidas, onde almejam chegar e que pessoas que pretendem ser. Este módulo é um processo de identificação dos desejos, das potencialidades e aspectos a desenvolver, buscando provocar os seguintes questionamentos:
Não se trata de definir a carreira. Trata-se, antes, de vislumbrar um plano de ação ou projeto(s) de vida, que ao longo do programa será refletido e revisado. Esse percurso ganha concretude por meio do desejo pessoal do jovem em sintonia com suas aspirações profissionais, em estreita parceria e orientação do mentor, educadores e das famílias. Ao final desse módulo, acontecerá o 2º Ciclo de Autoavaliação e Autoconhecimento.
Módulo Mobilização de Oportunidades
O módulo “Mobilização de Oportunidades” é dedicado a oferecer aos jovens momentos de reflexão e análise sobre caminhos profissionais possíveis, além de discutir sobre tendências, mercado de trabalho e o futuro das profissões. As missões que compõe o módulo Mobilização de Oportunidades ampliam o repertório dos jovens a respeito da atuação profissional, rotinas, formação, remuneração, entre outras curiosidades e especificidades da profissão desejada.
Nesse caso, os participantes podem selecionar e cursar uma ou todas as missões, considerando as diferentes áreas de atuação. Cada missão que compõe o módulo Mobilização de Oportunidades vem acompanhada dos Códigos, Condutas e Ética Profissional, somada a experiência Pílula Profissional. Ao final desse módulo, acontecerá o 3º Ciclo de Autoavaliação e Autoconhecimento e a revisão do Projeto de Vida.
Módulo Vida Produtiva
O módulo “Vida Produtiva” tem por objetivo conectar os jovens aos cursos, palestras, workshops dentro das áreas de interesse mapeadas, com objetivo de ampliar o repertório dos participantes e qualificá-los para o início de sua vida produtiva e ingresso no mercado de trabalho, de acordo com os desejos profissionais sinalizados no Plano de Voo.
Os jovens, com seus propósitos, metas e estratégias em mãos, partem para a realização de seus sonhos e objetivos. Pode ser entrar no mercado de trabalho, ingressar na universidade, empreender um projeto. O programa Competências para a Vida, seus educadores e mentores, irão apoiar os jovens nessa etapa final e fazer as pontes e conexões estratégicas com rede de parceiros.
Estamos falando de vida, de pessoas. Logo, apesar do objetivo do Competências para a Vida ser um impacto muito maior do que alguns meses na vida dos participantes, o programa precisa de uma conclusão. Esse é o momento em que a United Way Brasil reúne os jovens, famílias, parceiros e voluntários para reconhecer e celebrar as conquistas do programa Competências para a Vida. São eventos semestrais que servem para celebrar a incorporação das experiências dos aprendizados vividos e agradecer ao time pela trajetória percorrida. É um momento de festa, simbolizando o encerramento de uma jornada e início do próximo ciclo.
Confira 13 eventos online sobre design e inovação para participar em 2021
Saúde em Ação: como políticas públicas de saúde voltadas à atenção básica podem ampliar acesso e melhorar atendimento no SUS
Agência Tellus sistematiza experiências em Programa Piloto de Inovação na Gestão Pública