Existe algo mais inovador e criativo do que a natureza? Se você atua no cenário de inovação e vê a natureza como um acessório, algo para oxigenar nossas vidas nos finais de semana ou como fonte de recursos, você poderá mudar essa visão após a leitura desse texto. A natureza é um grande sistema de inovação. E quando falamos em sistema, queremos dizer um conjunto de elementos interdependentes que geram algo unificado. Dito isso, pensemos desta forma… as espécies só podem sobreviver se forem capazes de responder a um problema, implantando estratégias adaptativas. Ou seja, é basicamente a teoria da biologia evolutiva de Charles Darwin.
Onde queremos chegar com isso? Não importa o quão brilhante é uma ideia, se ela não corresponder às condições e necessidades do local em que está inserida, ela simplesmente se tornará insustentável e será extinta. A inovação não está apenas no criar, mas também no se adaptar aos diferentes cenários. E isso a natureza sabe fazer de forma primorosa. Como exemplo, veja o vídeo abaixo, onde mostra como lobos mudaram o curso de alguns rios.
Mas como alguns lobos conseguiram alterar um ecossistema enorme? Os ecossistemas são redes formados por redes menores, que geram trocas e estão interconectadas. Quando você altera uma conexão, o efeito cascata gera uma alteração imensa. É aí que percebemos que aquele pequeno elemento, aparentemente irrelevante, pode gerar impacto.
No começo deste ano, no texto “O que é Design? Uma visão além da ‘estética bonitinha’”, falamos sobre a nossa visão, aqui no Tellus, sobre o conceito de inovação. Para nós, a inovação é uma necessidade e/ou oportunidade de resolver problemas, onde existem problemas técnicos ou problemas complexos. Isso é basicamente o que a natureza faz todos os dias. Quando os lobos são inseridos em um local – onde não apareciam há mais de 70 anos – e mudam o comportamento dos veados, a natureza “percebe uma oportunidade” para remodelar aquela região.
Vamos fazer uma “brincadeira” e olhar esse caso sob a ótica do Design Thinking, mais especificamente o processo de criação de desenvolvimento do modelo Duplo Diamante. O problema/oportunidade é a ausência de área verde e a superpopulação de veados.
Com a inserção de lobos na região, a natureza começa a gerar descobertas e cria opções. Uma das opções é o comportamento dos veados, que passam a frequentar outros espaços, deixando com que o pasto volte a se regenerar. Outra alternativa é a diminuição da superpopulação dos herbívoros. Com estas informações, a natureza passa por definições, ou seja, a cadeia alimentar passa a se regular e o papel dos animais começam a serem definidos. Os lobos são apenas animais, eles são uma equipe de controle. Além disso, com a recuperação da mata, outros animais passam a retornar/frequentar a região, gerando outras definições.
Eis que a natureza decide inserir outros animais, em um processo de cocriação com a vida selvagem, gerando um momento de experimentação. Veja bem, todo esse processo é um processo de adaptação. Será que os coelhos vão se encaixar neste cenário? Qual o impacto no ecossistema onde existem coelhos, lobos e veados? É possível inserir aves de rapina? É claro que tudo isso é apenas uma ilustração do cenário real e a natureza é muito mais “caótica”.
Voltando ao nosso exemplo. Outro fator que faz com que a natureza seja extremamente inovadora é a resiliência. A capacidade de se recuperar de adversidades e mudanças no ambiente, sem ser alterada de maneira substancial e continuar se desenvolvendo no futuro. Aplicado ao Design de Serviços ou de novos produtos, se uma solução não for resiliente suficiente ao ponto de passar por pequenas adversidades (fluxos de mercado, por exemplo), a inovação de nada adianta.
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