No texto “O que podemos aprender com a digitalização e o governo 4.0 da Estônia?” falamos sobre como o país báltico está se preparando para implementar a digitalização de novos serviços, entre eles a saúde 4.0. Focando em empoderamento, onde as pessoas se tornarão mais conscientes dos fatores que influenciam sua saúde e cada pessoa se tornará progressivamente mais responsável por gerenciar sua própria saúde, e na mobilidade, onde os pacientes poderão acessar informações onde quer que estejam, em qualquer momento de sua escolha, a saúde 4.0 na Estônia visa, ao usar todas soluções de TI disponíveis, quebrar o monopólio de informações, algo comum na área da saúde, onde os dados dos pacientes estão vinculados a um único local e os médicos e os próprios pacientes não conseguem acessar essas informações.
Por aqui, o cenário não é diferente. De acordo com Willian Soares, gerente de saúde da Minsait no Brasil, consultoria focada em transformação digital, “a transformação digital no setor de saúde envolve diferentes tendências, que surgem com o objetivo de ampliar os benefícios aos pacientes e prestadores de serviços no segmento. Teleassistência, uso de aplicativos de engajamento do paciente, aplicação da inteligência artificial nos processos de assistência e análises avançadas de dados com tecnologias de big data têm sido alvo de investimentos recentes como forma de racionalizar custos e melhorar os serviços.” Willian completa “todas as aplicações já implantadas geram uma grande quantidade de dados valiosos. Garantir a disponibilidade e a segurança deles é uma premissa básica e atual, mas para que a tecnologia possa de fato evoluir nesse setor, é necessário dar um passo além, integrando todo o fluxo de informações relacionadas à saúde.”
Ainda segundo o especialista, “hoje, a fragmentação de dados como prontuários e receitas é um dos principais problemas enfrentados por diferentes agentes de saúde e resolvê-lo envolve a aplicação de tecnologias capazes de ‘conversar’ com os sistemas atuais para centralizá-las em um único repositório de dados e torná-los disponíveis para melhorar a assistência e otimizar os recursos.” Aliás, essa fragmentação é uma questão que já havíamos mostrado no estudo de caso “Rede Bem Cuidar: Melhorando o acolhimento e a empatia nas UBS de Pelotas (RS)”, solução desenvolvida pelo Tellus e que coloca as unidades básicas de Pelotas no caminho da saúde 4.0.
Ainda nesse sentido, Soares nos apresenta um projeto desenvolvido na Colômbia que salta aos olhos em questão de interoperabilidade (capacidade de um sistema de se comunicar de forma transparente com outro sistema). Recentemente, a capital do país, Bogotá, implantou um projeto para integrar informações de pacientes em 22 hospitais públicos da região. A solução empregada é baseada em FHIR (Fast Healthcare Interoperability Resources), o último padrão de interoperabilidade desenvolvido e promovido pela organização internacional HL7 (Health Level Seven), empresa responsável por alguns dos protocolos de comunicação mais utilizados na área da saúde.
A partir desta iniciativa, os profissionais da assistência obtém respostas rápidas e precisas que os apoiam nos processos de tomadas de decisão clínicas, além de outras ferramentas que auxiliam em projetos de pesquisa clínica e trabalhos científicos.
A integração dos processos de gerenciamento de consultas e prescrição eletrônica também traz benefícios importantes: permite aos cidadãos acompanhar seus compromissos através de um portal e melhorar o controle da demanda de agendamentos. Além disso, gerencia todo o processo das receitas médicas, acelerando o acesso dos pacientes aos medicamentos e reduzindo o deslocamento dos pacientes com doenças crônicas.
O acesso em tempo real as informações de relatórios médicos, laudos, testes, medicamentos, antecedentes ou alergias apoia muito a tomada de decisões e os cuidados em relação à saúde, além de fornecer uma visão completa da história do paciente. Com isso, é possível melhorar a assistência prestada, aumentar a produtividade e diminuir os procedimentos administrativos e burocráticos envolvidos em toda a cadeia.
Vale lembrar que, com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD – Lei n.º 13.709, de 14 de agosto de 2018) entrando em vigor em janeiro de 2020, aplicar este tipo de Design de Serviços Públicos e digitalização da saúde merece atenção redobrada para todos – seja setor público ou privado – uma vez que o tratamento da coleta, a classificação, a utilização, o processamento, o armazenamento, a transferência e eliminação de dados pessoais passa a ser fiscalizado pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (criada por uma medida provisória aprovada pela Câmara no último dia 29 de maio) e a lei é igual para todos os setores. Caso você não esteja atualizado quanto a questão da nova lei, sugerimos que leia o nosso texto “LGPD: Lei Geral de Proteção de Dados e os impactos no setor público”, que explica um pouco mais sobre os desafios que ela implicará no cotidiano do setor público.
Terminamos esse texto com um pensamento. Apesar dos desafios envolto da nova lei e da implementação de digitalização no Brasil, a saúde 4.0 é uma perspectiva real e necessária para o futuro da sociedade, basta focarmos no planejamento e colocarmos o cidadão como ator central desta solução. Neste último ponto, indicamos que veja o TEDx da médica Luisa Portugal.
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Engajamento Digital na Saúde: Transformando o atendimento em UBSs – Estudo de caso do projeto Engajamento Digital na Saúde. Um projeto de Serviço Público Digital desenvolvido pela nossa equipe da Agência Tellus no município de Cotia-SP.
Crédito: Imagem Destaque – Pressmaster/Shutterstock
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