Você, como muitos de nós, deve ter estudado em um sala de aula padrão. Cadeiras, mesas e lousa (ou quadro negro, dependendo da sua idade ou região) completavam o cenário característico das escolas brasileiras. No caso de hoje, queremos contar um pouco sobre o projeto Estudiotecas. Essa iniciativa é fruto da parceria com a empresa de logística VLI (Valor Logística Integrada), financiada pelo BNDES, e tem como objetivo criar soluções nas áreas de educação e saúde nos municípios de Santos e Cubatão, territórios onde o projeto de expansão do TIPLAM (Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita) está inserido. Além disso, a realização desse projeto conta com o apoio da Secretaria de Educação de Santos e todo o material foi sistematizado pela Agência Tellus, nossa consultoria focada em inovação e implementação de serviços públicos.
Se você chegou neste texto, mas ainda não conhece o Tellus, antes de tudo vale contar (brevemente) o que fazemos. A Agência Tellus, um dos braços do grupo Tellus, desenha e implementa experiências de serviços públicos centrados no cidadão, em unidades físicas e móveis. Criamos “com” e não apenas “para” o cidadão soluções inovadoras utilizando a abordagem do Design Thinking.
Voltando ao projeto Estudioteca, pensando na criação de uma política pública de pacificação restaurativa com o foco na Cultura de Paz e do Diálogo, a Prefeitura de Santos, por meio da Secretaria de Educação, promulgou pelo Decreto no 6.935 e pela Portaria nº 173/2013 de 17 de outubro de 2014, instituiu e nomeou uma Comissão de Gestão para a implementação e acompanhamento do Programa Justiça Restaurativa, pretendendo-se tornar uma Cidade Educadora-Restaurativa. Dito isso, tínhamos como objetivo: “Potencializar a aprendizagem a partir da criação de um espaço que desenvolva as competências do século XXI e promova novas oportunidades de experimentação dos recursos digitais.” E é neste ponto em que chegamos a concepção da Estudioteca.
O programa foi iniciado em nove escolas-piloto, escolhidas a partir de critérios como maior número de alunos e diversidade de modalidades de atendimento. UME Ayrton Senna, UME Cidade de Santos, UME Florestan Fernandes, UME Leonardo Nunes, UME Lourdes Ortiz, UME José Carlos de Azevedo, UME Pedro Crescenti, UME Pedro II, UME Vinte e Oito de Fevereiro totalizavam 7.643 alunos e 531 professores e receberam esse projeto tanto pela sua diversidade, abrangência e conexão com o tema da Cultura de Paz.
De acordo com Aline D’Unhão, líder do projeto, “o principal impacto (do projeto) é levar para essas 9 escolas públicas de Santos um ambiente flexível que permita, com o auxílio da tecnologia, repensar o espaço e a experiência de ensino. A Estudioteca reforça aos professores a importância do papel de facilitadores do processo de aprendizagem e traz aos alunos a conectividade do cotidiano e ainda a possibilidade de se expressar de forma criativa na produção de conteúdos”.
Com essas informações, além de consulta de mais de 1000 pessoas da comunidade escolar e da rede municipal de Santos, a Agência Tellus dividiu o processo de construção do projeto em quatro partes. As duas primeiras – Entendimento e Análise – focadas na contextualização do cenário e identificação de desafios, seguidas pelas etapas de Desenvolvimento e Implementação, que têm como objetivo a criação de possíveis soluções, seleção das que são viáveis e desenho e acompanhamento da implementação.
A parte de Entendimento (exploração/diagnóstico) consistiu em 9 visitas, 3 oficinas com mais de 50 pessoas; e entrevistas individuais e em grupo, com outras mais de 40 pessoas. Tudo isso totalizando 162 profissionais e 587 alunos. A ideia era entender e identificar necessidades e desafios na criação de um espaço de ensino conectado aos dias atuais.
Já na fase de desenvolvimento, aconteceram oficinas para criação coletiva de soluções, nas quais participaram especialistas, representantes da Secretaria Municipal de Educação de Santos, diretores, coordenadores, professores e responsáveis pelas Estudiotecas.
“Um grande desafio foi estruturar e articular os papéis e responsabilidades de cada interlocutor ao longo do projeto, pois o desenvolvimento exige organização e é tão importante quanto o resultado alcançado. O acompanhamento por parte do Município, do parceiro técnico e do financiador do projeto em todas as fases, mais em especial na implementação, é fundamental para destravar todos os obstáculos encontrados” afirma a líder do projeto, Aline D’Unhão.
A ideia é que a Estudioteca fosse utilizada por três diferentes atores. O gestor, que promove pequenos eventos temáticos e/ou rodas de conversas, além da formação de professores. O professor, com aulas regulares do currículo, mas em formato diferenciado; tendo apoio de uso da tecnologia, diferente arranjo de sala. E, por fim, o aluno, que interage e participa de aulas em formatos diferentes e pode promover encontros de grupos, grêmio e outras associações informais.
Como falamos no começo do texto, a educação pouco evoluiu ao longo do último século. A forma como as escolas estão estruturadas (o velho padrão mesa e lousa) não se conecta com os jovens atuais, nativos digitais, tampouco os apoia no desenvolvimento para a vida em um século de grandes complexidades. Não dá, por exemplo, para discutirmos fake news, responsabilidade nas redes sociais e outras temas nativos do âmbito digital dentro de espaços tradicionais. Para dar conta deste desafio, é fundamental repensar a escola sobre diversos aspectos. É importante que professores estejam preparados para reinventar a sua prática, partindo da perspectiva que ele não é mais o detentor de conhecimento, mas um facilitador do processo de aprendizagem.
A proposta da Estudioteca é que seja um local em que se desenvolva a empatia, comunicação, resolução de problemas, criatividade, autonomia e fluência digital. Um espaço flexível que permite realizar novas experiências de aprendizagem, disposições de grupo e utilizar tecnologias para a realização de atividades.
Por fim, a implementação contou com a análise dos locais, elaboração de projeto arquitetônico – feito em parceria com o Auá Arquitetos – , obras e pequenas reformas nos espaços, aquisição e patrimonialização de equipamentos, montagem e vistoria do espaço, acompanhamento da implementação a fim de destravar os desafios encontrados ao longo dessa fase, articulação e comunicação com os envolvidos, apoio na definição de equipe e responsáveis pelos espaços, capacitações em gestão e liderança para representantes do equipamento público, uso dos espaços, comunicação não-violenta e uso de equipamentos, apoio ao soft opening dos espaços, desenvolvimento de materiais gráficos, para, finalmente, apoio ao lançamento do espaço e formalização da entrega ao município.
No entanto, gerir e manter um espaço como a Estudioteca pode ser um grande desafio. Para isso, foram definidos alguns acordos de uso. Para facilitar e inspirar essa criação de acordos, foram selecionadas algumas sugestões mapeadas levantadas nas pesquisas, entrevistas, conversas e oficinas de cocriação. Uma jornada de sensibilização ao uso da Estudioteca ajuda na implementação e continuidade do espaço.
De acordo com o manual de implementação da Estudioteca, “para garantir e promover a experimentação e teste do novo espaço, é importante preparar o terreno. Esse momento é fundamental para a apropriação de acordos e regras, desenvolvimento da autogestão e estimular a cultura de experimentação de novas práticas.” Lembrando que os acordos sobre o uso da Estudioteca devem ser construídos e/ou validados em conjunto pela comunidade escolar, aumentando essa sensibilização e sensação de pertencimento da comunidade em relação ao espaço.
Além disso, outras ações foram mapeadas para manter a manutenção e segurança da Estudioteca. Por exemplo, em caso de danos, todas as escolas têm um facilitador da Justiça Restaurativa que pode fazer a mediação da resolução em casos mais graves. No caso de um dano não intencional, o professor pode fazer o registro da ocorrência via SAU e enviar o equipamento para manutenção. Outra solução são os “guardiões do espaço”, estudantes voluntários escolhidos por professores e gestão para apoiar os professores na organização, preparação e checagem da sala. Ou seja, desenvolvendo um espaço cocriado, que deve ser gerido não só por um responsável, mas por toda a comunidade.
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