Você consegue imaginar o mundo atual sem automóveis a combustão? Ou como isso pode impactar a indústria do petróleo, governos e a gestão pública? O relatório “Rethinking Transportation 2020-2030: The Disruption of Transportation and the Collapse of the Internal-Combustion Vehicle and Oil Industries” (“Repensando o Transporte 2020-2030: A disrupção do transporte e o colapso do veículo a combustão e da indústria do óleo”, em tradução livre) afirma que todo este cenário pode mudar nos próximos anos e a gestão pública será diretamente impactada.
Segundo o estudo, o papel das autoridades de transporte público mudará drasticamente de propriedade e gerenciamento de ativos de transporte para gerenciamento de provedores de TaaS (sigla para “transport-as-a-service”, ou “transporte como serviço”, em português), garantindo o acesso equitativo e universal ao transporte de baixo custo. Muitos municípios verão o TaaS gratuito como um meio de melhorar o acesso dos cidadãos a empregos, compras, entretenimento, educação, saúde e outros serviços em suas comunidades.
Desenvolvido por Tony Seba, economista da Universidade de Stanford, empreendedor do Vale do Silício e autor do best-seller “Clean Disruption of Energy and Transportation: How Silicon Valley Will Make Oil, Nuclear, Natural Gas, Coal, Electric Utilities and Conventional Cars Obsolete by 2030” (“Disrupção limpa da energia e do transporte: Como o Vale do Silício tornará obsoleto o óleo, energia nuclear, gás natural, carvão, utilitários elétricos e carros convencionais em 2030”, em tradução livre) e por James Arbib, investidor em tecnologia e filántropo com foco em sustentabilidade e soluções de impacto; o relatório reúne o estudo sobre o impacto da economia colaborativa aplicada aos transportes públicos e privados, as mudanças na cadeia de produção dos combustíveis fósseis e os impactos socioeconômicos do futuro do transporte.
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Seba afirma que essa grande mudança no mercado de combustíveis e automóveis é motivada, principalmente, pelos avanços tecnológicos e não por questões ambientais. “Nós estamos diante de uma das disrupções mais rápidas, profundas e de maior consequência da história do transporte”, disse o economista. “Veículos com motores de combustão interna entrarão em ciclo vicioso de aumento de custos”. Ele completa, “a curva de custos mostra que até 2025 todos os novos veículos serão elétricos, todos os novos ônibus, carros, tratores, vans, qualquer coisa que se mova sobre rodas será elétrico no mundo.”
Como falamos no início do texto, a gestão pública será impactada diretamente porque terá que adotar uma nova forma de gestão dos transportes. “Prevemos uma fusão entre o transporte público e privado, em um formato que segue para o transporte gratuito, no modelo TaaS Pool (um subconjunto de TaaS que implica compartilhar uma viagem com outras pessoas – o equivalente ao Uber Pool, por exemplo). As empresas também poderão patrocinar veículos ou oferecer transporte gratuito para comercializar bens ou serviços para passageiros.”
O estudo também afirma que TaaS reduzirá drasticamente os custos de transporte; aumentará a mobilidade e o acesso a empregos, educação e assistência médica (especialmente para aqueles restritos no modelo atual, como idosos e deficientes); criará trilhões de dólares em excedentes do consumidor; e contribuirá para comunidades mais limpas, mais seguras e mais tranquilas.
Enquanto o futuro do automóvel em combustão segue em discussão por diversas esferas, do acadêmico ao setor privado, no Brasil, o Senado Federal tem um projeto de lei em tramitação que propõe o banimento gradual da comercialização de carros a combustão no país. Começando em 2030 até chegar a proibição definitiva, em 2060, o PLS 454/2017 já foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos e agora segue para a Comissão de Meio Ambiente para decisão terminativa. Ou seja, caso seja aprovado, será encaminhado diretamente à Câmara de Deputados para apreciação sem precisar passar por votação em plenário.
A lei brasileira não é um movimento único no mundo. Em maio de 2019, o Conselho Municipal de Amsterdã anunciou que carros e motos movidos a gasolina e diesel serão proibidos a partir de 2030. Assim como a lei brasileira, a medida também será gradual, mas começará a ser implementada já em 2020 e terá como meta para banimento os carros produzidos antes de 2005.
Roma é outra cidade europeia que também pretende limitar a locomoção de veículos poluentes pela cidade. O projeto italiano é de fechar o centro da cidade para veículos a diesel a partir de 2024.
Já em Madri, na Espanha, desde 2018 os veículos movidos a diesel e gasolina e fabricados antes de 2000 estão proibidos de circular na área central da cidade. Estão livres da sanção apenas os veículos que pertençam a residentes da área, atendam ao transporte público ou se enquadrem em algum tipo de isenção. No mais, apenas veículos que produzem emissão zero podem circular pela região central da cidade.
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